Sunday, October 27, 2013

A Fábrica foi para a Bahia. É Ford! (da série Expresso 222..., Livro 1)


A Fábrica foi para a Bahia. É Ford!

 

                        Não sei que custos gerais a gente teria que pagar para ter essa fábrica da Ford no ES, mas em todo caso ela foi para a Bahia – US$ nada desprezíveis quatro bilhões. Claro que ACM, Antônio Carlos Magalhães, dito Toninho Malvadeza era então personalidade central no Congresso, enquanto senador, e os políticos baianos são de longe mais antigos, poderosos, representativos e operantes que os capixabas, mas mesmo assim foi um choque.

                        Desde 1985 eu vinha pedindo uma fábrica de automóveis, junto com uma Usina de Processamento de Petróleo, e outras coisas, a partir dos jornais de Linhares, onde eu estava à ocasião.

                        Os políticos linharenses cometeram uma asneira semelhante com a que seria hoje a Linhares Celulose, e se chama Aracruz Celulose, essa potência mundial, que praticamente sozinha arrecada mais ICMS que Linhares inteira. Acho que arrependimento mata mesmo, porque o ex-prefeito que (não) fez isso está prefeitamente morto, e literalmente enterrado.

                        Por quê o ES não é capaz de atuar em bloco, em defesa dos interesses do povo e das elites capixabas?

                        Há essa vergonha de ser brasileiro, e essa outra, maior ainda, de ser capixaba. Parece que bom é ser baiano, carioca, paulista, pernambucano, rio-grandense, brasiliense, etc., menos capixaba. Não acho, estou muito satisfeito em ser capixaba e brasileiro, apesar de todas as minhas críticas, que são acerbas. Falo em sair daqui, mas é só da boca para fora.

                        Mas como compatibilizar essa vontade de ficar com a antiga declaração de que o Brasil é o país do futuro, de Stephen Zweig, e de que Deus é brasileiro, de algum anônimo? O futuro nunca chega, é lógico, é sempre hoje, e se Deus é brasileiro deve ter ficado de saco cheio e mudado para algum país civilizado, onde as elites incompetentes e os governantes e políticos totalmente desnorteados daqui não estejam, nem possam chegar.

                        Qual a razão dessa gente toda, todas as lideranças não fazerem um Fórum Capixaba de Desenvolvimento, reunindo todos os poderes e forças vivas da sociedade numa única direção e sentido, promovendo esse esperadíssimo salto autônomo rumo à alta tecnociência e ao altíssimo conhecimento?

                        O quê dizer a esse povo e essas elites que esperaram até 1975 só para ter liberada a passagem norte-sul em Sooretama, ligando o Nordeste ao Sudeste? O quê falar a toda essa gente que, diferentemente dos 500 mil capixabas que migraram, nunca saiu daqui, continuando a acreditar durante os piores tempos, e mais ainda às pessoas que vieram e passaram a amar esta terra, apesar do morticínio, da falta geral de tratamento de esgoto e água servida, da falta de abatedouros, dos lixões, de toda a insegurança?

                        O governador vai a Vila Velha esperar o presidente da República FHC para inaugurar um reles terminalzinho portuário para petróleo, que deve estar em décimo quinto milésimo lugar no mundo.

                        É de irritar, viu!

                        Enquanto isso foram inauguradas fábricas de automóveis e caminhões na Bahia, no Paraná (duas), no Rio de Janeiro (duas) e saibam-se quantas mais.

                        Como em toda parte devem morrer muitos moradores do ES de problemas do coração, mas deve ser relativamente pouco, levando em conta as nossas contínuas decepções com os políticos e governantes daqui.

                        Vitória, quinta-feira, 11 de abril de 2002.

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