Os
Idos de 1975
Arthur Carlos Gerhardt
Santos foi governador biônico do estado nessa época, pelas mãos de Geisel, de
1975 a 1979.
Fosse por ele mesmo,
como engenheiro que é, ou devido às circunstâncias da ditadura, o fato é que
miraram o ES como alvo de alguns investimentos bastante grandes.
Senatilho Perim era o
secretário da extinta Indústria e Comércio, onde eu fui admitido e fiquei um
ano e meio, de modo que estava no núcleo mesmo de onde eram disparadas as
coisas. Foi feita uma exposição nos armazéns do Cais do Porto, onde colocaram
as maquetes e um monte de fotos, inclusive da planejada monstruosa CST, que
atingiria em 20 anos uma produção de 12 milhões de toneladas de aço(acho que
até agora, passados sete anos do prazo, não chegou à metade), e várias
indústrias grandes. A malha rodoviária projetada foi chamada de Espinha de
Peixe, e obviamente também não se concluiu nos moldes.
Mas foi a última vez em
que, pelo menos, se fizeram grandes as expectativas dos capixabas quanto ao
futuro.
Nenhum dos governadores
que vieram depois chegou nem perto de imaginar cenários inovadores, que
tivessem o condão de despertar na coletividade ambições não-triviais de
continuidade. Faltou grandeza, eu acho. Claro que naquele momento foi tudo
conjuntural.
Minas Gerais não tem
porto próprio, o jeito foi sair pelo ES, de preferência a injetar ainda mais
força e poder ao Rio de Janeiro, então um estado politicamente rebelde, avesso
ao governo central. Tudo obra do acaso, mas disso estamos vivendo até hoje.
Se o ES aparece na mídia
nacional, isso ainda se deve à presença da CST, da CVRD ampliada, da Samarco,
da Aracruz Celulose, tudo daquela época. Não fosse isso, continuaríamos a ser a
porqueirazinha de antes.
Faltou esse grande
governador, agora com objetivos estruturais, racionais, de moto próprio, e não
mais conjuntural, sentimental, movido pelas vontades de fora. Falta esse grande
governador que seja capaz de projetar ainda mais o ES, criando grandes cenários
que impressionem todos os capixabas, que nos faça empolgar-nos mais, investir
mais, buscar fontes de recursos, desencavar idéias, criar novas, fazer e
acontecer – enfim, estabelecer um novo surto de prosperidade, rumo, por
exemplo, à alta tecnociência mundial.
Criar e manter um novo
ciclo capixaba de desenvolvimento.
Paralelo ao brasileiro,
mas com características de independência e novas certezas quanto ao futuro.
Está certo que somos
brasileiros e que gostamos de ser brasileiros, irmãos de todos os estados, nós
temos mesmo identidade com todos e cada um. Mas, e nossa capacidade de fazer
capixabamente? Quando é que vamos defini-la? Agora já não confundem Vitória com
Vitória da Conquista, e nem dizem que a razão do Criador para fazer o ES
tivesse sido aumentar a distância entre o Rio de Janeiro e a Bahia.
Mas ainda estamos longe
de termos uma identidade tão marcante quanto a dos baianos, dos cariocas, dos
paulistas, dos rio-grandenses, dos pernambucanos, etc., e até dos brasilienses,
que começaram em 1960.
Que é que falta?
Falta presença de espírito
a um homem ou a uma mulher que veja o ES em ponto grande e diga: “sou eu que
vou fazer!” Pelo menos vou começar, nos meus quatro anos, ou até nos oito, se
houver reeleição.
Enquanto não aparece tal
criatura, ficamos todos à espera do disparo que detona a corrida para frente.
Vitória, quarta-feira,
10 de abril de 2002.
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