Ataques
Sutis
No livro de Michio Kaku,
Visões do Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro,
Rocco, 2001, ele diz na página 119: “Teólogos cristãos algumas vezes definiram
a ‘alma’ como algo independente do mundo material, que existe mesmo após a
morte. A teologia cristã, com suas elaboradas recompensas, punições pelo pecado
e promessas de vida eterna, afirma a
separação da carne e do espírito”, grifo e negrito meus.
Como poderiam definir
essa separação, distinção, isolamento, desunião do corpo e da alma? Pois não
está estabelecido, POR DEFINIÇÃO, que eles ficam juntos durante o período de
encarnação? A alma, por assim dizer, “desce” até o corpo que está sendo
constituído no útero e com ele se junta, para constituir um corpo-alma único,
SEM SEPARAÇÃO até que a morte os separe. Não devemos entender que o corpo tenha
uma alma, ou que a alma tenha um corpo, como se fosse algo de fora, mas que são
um e o mesmo, temporariamente, durante a vida, sendo ao fim dela apartados.
A alma não fica dentro
do corpo, como sardinha dentro da lata, e sim constitui um par polar indissolúvel,
até que venha a morte. Então não foram os cristãos que afirmaram isso. Na
realidade a rebentação se deu com Descartes (francês, 1596-1650, 54 anos entre
datas. Tomando 27 como média, lá por 1623 é que a coisa mudou). Como a Reforma
é de 100 anos antes (Lutero, alemão considerado o iniciador efetivo dela, viveu
de 1483 a 1546, 63 anos entre datas, média em 1515), isso já é resultado da
visão de mundo protestante de antagonismo, e não do catolicismo, que é Igreja
Católica (universal).
O protestantismo e a
visão de mundo geral de “racha”, de rompimento, de quebra que trouxe é que
proporcionou aquele espírito de que Descartes se valeu para separar (e
antagonizar) corpo e mente ou espírito ou alma.
Não foi, de maneira
alguma, o cristianismo católico.
Foi Descartes,
especialmente, e dessa separação, propiciadora de uma nova liberdade muito
necessária, aliás, se valeram os cientistas, os filósofos e todos que dela necessitavam,
para fazer prosperar a visão de incompatibilidade, de desunião irremediável
que, exacerbada, tornou-se essa chaga que corrói o mundo todo, hoje.
Havendo, no meio
científico/técnico e filosófico/ideológico, gente pérfida, ou aqueles que, sem maiores
raciocínios, vão acompanhando o humor detestável dessa cambada, muitos ataques
frontais, diretos, que são menos daninhos, porque se pode reagir a eles, e
subversivos, indiretos e sutis, que passam despercebidos, foram sendo feitos,
visando minar as religiões.
Durante 25 anos fui ateu, dos 18 aos
43, porém nunca me comportei assim, sem respeito pelas crenças alheias. Não sou
religioso, contudo é triste ver como as pessoas podem escorregar facilmente
para esse tipo de atitude.
É
como a heresia que afirmava que Jesus tinha duas naturezas separadas, a de Deus
e a de homem. Seria esperado que Deus não pudesse vencer a separação? É
evidente que Deus, infinito, não pode caber inteiro no mundo finito, daí Jesus
não poder ser TODO-DEUS, sendo apenas o que de Deus encarna, cabe num corpo
humano. Entrementes, seria tolice dizer que as duas naturezas estavam
separadas, e que na cruz, símbolo da separação, não tivesse sofrido o
Deus-em-carne, apenas o homem, em seus horrores menores. Ali sofreu o Deus a privação
que é estar na carne, sem poderes. ESTA é a doação significativa, o
rebaixamento por amor até o nível da humanidade - terrestre, fechada
planetariamente, e por via de conseqüência menor, provinciana.
Infelizmente
as pessoas confundem tudo.
Por
não pensarem a fundo, elas confundem alhos e bugalhos.
Vê-se
que o pensar em profundidade é a única salvação.
Vitória,
terça-feira, 14 de maio de 2002.
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