O
Desastre Maxista
Não é marxista, não, é
maxista mesmo, de MAX Mauro, o ex-governador, e é um relato sobre como o
orgulho pode afetar o futuro de todo um estado, iniciativas públicas e
privadas, povo e elites.
Quando Camata entrou, no
primeiro semestre seguinte, com a inflação acumulada em 100 %, ele deu reajuste
de apenas 50 %, repetindo a dose no semestre seguinte, nas mesmas proporções,
resultando que os salários foram em um ano reduzidos efetivamente a 25 % do que
eram antes dele assumir o governo. Assim ele governou, com o sofrimento dos
funcionários públicos.
Max fez pior. Implantou
a chamada Lei da Trimestralidade,
terrível veneno, que a cada três meses dava reajuste de 60 % da inflação
precedente, perdendo-se 40 %, que poderíamos ou não recuperar em parte mediante
negociação. Para se ter uma idéia, se a política tivesse sido imposta no
primeiro dia de governo e terminasse no último, quatro anos significando 12
trimestres, e não tivessem sido dados senão os 60 % rasos, ao final do mandato
nossos vencimentos teriam caído a 0,2 %, dois milésimos do que eram no início.
Tal política, é lógico,
exigiu muita combatividade das associações (a nossa era a AFES, Associação do
Fisco Espírito-Santense). Por vezes ficamos oito horas esperando na ante-sala do
Gabinete do Palácio, com mais várias horas de discussão, para levar 10 ou 15 %
e assim chegar a uma perda de “somente” 30 ou 25 % no trimestre.
Como era de esperar, em
pouco tempo ele também passou a governar folgadamente com o sacrifício do
funcionalismo. Apregoava estar gastando 80 a 90 % das receitas com o pagamento
da Folha, mas quando fomos ver nos relatórios do Tribunal de Contas, não
passava, ano após ano, de 40 % das receitas líquidas.
Em março e junho de 1990
a inflação esteve especialmente alta, e quando venceram os dois trimestres ele
não deu nem os 60 % prometidos, deu zero mesmo, não deu absolutamente nada.
Então, pela primeira vez, nossa associação, sob a gestão de Paulo Fernandes
Rangel, e com a brilhante defesa de Miguel Deppes Talon, numa ação assinada
pelo atual juiz federal José Carlos Rizk, então advogado da AFES, e sua
assessora, Ana Bela Galvão, entramos na Justiça contra tal absurdo, que somava
nos dois trimestres quase 162 %.
Com mais presteza
Setembrino Pelissari tinha entrado um pouco antes, porque demoramos a nos
posicionar. O resto todo mundo sabe: as ações foram ao Supremo, ganhamos, elas
baixaram, foram calculadas no Tribunal de Justiça e viraram esses precatórios
que, segundo a imprensa, montam dois bilhões de reais.
No entanto é muito mais
que isso.
Observe que a receita
estadual na ocasião era de 30 milhões de dólares, na parte do estado. Disso,
como vimos, 40 % era o que custava a Folha, US$ 12 milhões. Os 162 %
corresponderiam a perto de US$ 20 milhões/mês, vezes 13,33 (11 meses de
trabalho + férias + 13º salário + 1/3 de férias) meses por ano, vezes 12 anos
decorridos desde então = US$ 3,1 BILHÕES, ou seja, espantosos 6,8 BILHÕES DE
REAIS, ao câmbio atual, portanto 3,5 vezes o que a imprensa divulga. Essa é a
dívida real, fora que os salários todos devem ainda ser multiplicados por 2,62,
para incorporar os 162 %, o que ainda não foi feito.
Daí se vê que o ES não
pode continuar sendo um estado de segunda, situado em 7ª ou 8ª posição,
conforme as avaliações. Deve saltar para perto do Rio de Janeiro ou de Minas
Gerais, com 12 % da renda nacional, e não mais 2,5 %, como penso ser agora. Ou
não vai ser possível pagar.
Sendo ou não possível
pagar, obviamente toda a coletividade foi prejudicada, tanto a pública (porque
os recursos poderiam ser alternativamente aplicados em obras necessárias ou
fundamentais) quanto a privada (que vai ser arrochada pela coleta dos
impostos).
Ora, se ele tivesse
aceitado os reajustes nas datas estipuladas, os 40 % de gastos teriam ido provisoriamente
a 105 % das receitas e logo depois, com a própria política da trimestralidade,
teriam caído instantaneamente às bases anteriores. Em três trimestres mais
estariam em menos de 40 % novamente, que somados a 105 %, daria uma média anual
de 60 %.
Que terá movido esse
homem, em tudo honesto, a comportar-se assim ? Penso que foi o orgulho, não há
outra explicação.
Num estado em que atual
governador José Ignácio Ferreira transformou o par polar oposto/complementar
sim-não num quadripolo sim-sim, sim-não, não-sim e não-não (primeiro caso no
mundo – o ES tem a duvidosa honra de ter dilatado as margens da lógica e da
dialética), temos também a incrível infelicidade de sermos destroçados tanto
pelos políticos e governantes desonestos quanto pelos honestos.
É ou não é uma
fatalidade?
Mas, como disse
Niezschte, “o que me mata me fortalece”, ao que o povo reduziu a “o que não
mata engorda”.
Resta saber se
suportaremos o estrago.
Em todo caso a sociedade
capixaba percebe agora que, DE MODO ALGUM, pode mais se ausentar do
acompanhamento permanente, diário, exaustivo, das ações de governo e de
política.
Vitória, sexta-feira, 12
de abril de 2002.
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