Duplaneta
O livro de ficção científica de Jack
Vance, Planeta Duplo, Rio de
Janeiro, Francisco Alves, 1979 (sobre edição americana de 1976), é formidável.
Ele tem a capacidade de criar cenários nos quais podemos nos sentir circulando
e personagens consistentes aos quais podemos nos identificar, em termos de
propósitos.
Fala de dois planetas, Masque
e Skay, que giram em torno da estrela Mora. Outrora os homens numa primeira
leva de colonização chegaram a eles, formando duas raças da espécie, os
saidaneses de Skay e os djanadeses de Masque. Muito mais tarde, a ponto de
essas duas raças terem formado povos “de grande antiguidade”, chegou mais uma
leva de homo gaea, o ser humano da Terra. Doze das 14 companhias se assentaram
numa porção do norte de Djanad, depois chamada Fantaéria, em correspondentes
doze distritos, professando nova fé propagada por Eus Fantário, o Explanador da Verdadeira Fé. A 13ª. Companhia, não
querendo admitir a “Tripla Divindade” do profeta, foi apartada e banida para a
separada província de Clarim, no extremo noroeste. A 14ª. Companhia, os
“irredimíveis”, completamente ateus, foi expulsa para Dahobay, mais ao norte do
Longo Oceano, e quase completamente destroçada. Lá os remanescentes se fundiram
com o misterioso povo local.
E é quanto basta para
Jack Vance criar uma obra prima ainda não filmada, mas deliciosa em tudo. Você
não pode perder.
Bom, o assunto aqui não
é o livro, propriamente.
É a visão de dois
planetas girando juntos, porque isso nos faz lembrar a Lua e a Terra, que são
na astronomia chamados de planetas irmãos ou planeta-duplo.
No modelo vi que a Terra
está, atualmente, no que denominei “toróide
da vida”, TV. Toróide quer dizer “o que tem a forma de toro”, um anel em
volta do Sol pelo qual a Terra transita em sua translação/rotação. Quando o Sol
era maior e ejetava mais energia pode ser que o toróide estivesse em Marte;
quando for menor e ejetar menos, pode ser que mude para Vênus.
Não é apenas a Terra que
está nele. Provavelmente ele poderia comportar vários diâmetros terrestres de
um e outro lado. Como o diâmetro da Terra tem 12,7 mil quilômetros, pode ser
que o TV seja de, digamos, 10 milhões de quilômetros de cada lado, sendo a
distância daqui até o Sol, de 150 milhões de quilômetros, chamada de UA,
unidade astronômica. Então, talvez o TV seja de 20 milhões de quilômetros,
incluindo não somente a Lua como também qualquer planeta que estivesse girando
na posição adequada.
Para haver vida é
preciso estar presente a chamada Bandeira
Elementar (ar, água, terra/solo e fogo/energia), no centro da qual,
incidentalmente, pode se constituir a Vida geral e no centro do centro a
Vida-racional, por exemplo, esta humana.
Na Lua há fogo/energia
vinda do Sol, tão abundante quanto na Terra. Com certeza há terra/solo, pois o diâmetro
lunar sendo de 3,5 mil quilômetros, a área superficial é de 38 milhões de km2,
4,47 vezes a área do Brasil. Há alguma água misturada no solo, bastante para a
colonização futura a partir da Terra, mas infelizmente não há o ar, que também
é fundamental. A Lua, com apenas 1/6 da gravidade do nosso planeta, não
conseguiu reter nenhuma atmosfera útil à criação da Vida.
De outro modo, começando
independentemente lá ou cá, a queda de meteoritos acabaria por ejetar
replicadores de um para outro local, contaminando-se mutuamente os dois mundos
nos primeiros bilhões de anos, digamos até a metade da existência conjunta.
Veja só que maravilha
teria sido se Vênus (95 % do diâmetro terrestre) e a Terra tivessem formado um
par desde as origens!
Ou lá, nesse gêmeo
terrestre, haveria vida desde o princípio, ou agora poderíamos colonizá-lo, ou
vice-versa.
Melhor se ambos tivessem
vidas independentemente formadas e evoluídas. Que prazer enorme para todas as
ciências e os outros conhecimentos todos!
Infelizmente não
aconteceu, a Lua é estéril, não teve filhos, mas só o pensamento já pode render
muitos filmes de FC e muitas teses de mestrado e doutorado, além de linhas de
pesquisa & desenvolvimento.
Vitória, sexta-feira, 26
de abril de 2002.
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