Suprema
Elegância do Universo
Ao contrário de Stephen
Hawking, em O Universo numa Casca de Noz,
São Paulo, Mandarim, 2001, visualmente belíssimo, cheio de ilustrações, mas
frágil nas concepções (como também seu celebérrimo best seller Uma Breve História do Tempo, onde quem
conhece a língua notou mais de 100 erros de tradução), o livro de Brian Greene,
O Universo Elegante (Supercordas,
Dimensões Ocultas e a Busca da Teoria Definitiva), São Paulo, Cia. Das
Letras, 2001, é importante em si mesmo, um dos mais nobres que jamais tive a
oportunidade de ler.
Não obstante, quase não
tem figuras, o que não vai agradar ao povo. Com certeza não vai ser um campeão
de vendas.
Apesar de toda a
grandeza intrínseca do texto, e a correção dos conceitos, Greene fala da Teoria
de Tudo como se da Física, onde ela está sendo buscada como substitutiva da
Teoria de Campo de Einstein, pudesse ou devesse sair uma Teoria Geral,
universal mesmo, para todas as ciências, e todo o Conhecimento.
O modelo tem muita coisa
além da Física, como na realidade.
A Química, primeira
ponte (p.1), a Biologia/p.2, a Psicologia/p.3, a Informática/p.4, a
Cosmologia/p.5 e a Dialética/p.6. Depois de uma Teoria de Tudo na Física
deveríamos ter uma TT na Química e assim por diante. De forma que a TTF é
apenas um comecinho. Fundamental, não se pode negar, mas apenas um pequeno
começo.
E, depois, o
Conhecimento partido é composto de Magia/Arte, Teologia/Religião,
Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática, de modo que uma Teoria de Tudo Mesmo, TTM (não
confundir com TPM, tensão pré-menstrual, que é outro problema), ainda vai
demorar à bessa.
É verdade que o universo
é elegante, é grande, mas não só na Física, de maneira que falaríamos com mais
apuro em SUPREMA ELEGÂNCIA, uma explicação que englobasse absolutamente tudo,
não deixasse coisa alguma de fora.
De todo modo, o Greene
não deixa de estar certo em seu entusiasmo irrefreado e até dilacerante. É
assombroso, mesmo, e deixa a gente com uma pontinha de satisfação porque,
afinal de contas, a coisa esteja começando a convergir num previsível final na
Física, que é começo de uma concepção definitiva, uma compreensão de como o
universo funciona de fato.
Não é formidável que a
espécie humana, em apenas dez mil anos de história, tenha vindo do fundo do
poço da ignorância até o começo da visualização dessa assombrosa construção que
é o Universo? Não é surpreendente que em nossa galáxia, uma em bilhões, mas
comportando em si 400 bilhões de estrelas, numa dessas estrelas, o Sol, uma
espécie racional possa ter montado no planeta Terra um programáquina mundial
que traça as linhas do Universo do princípio ao fim, em todas as suas
possibilidades? Bem, pelo menos na Física, mas já é muita coisa.
Pela primeira vez em
décadas fiquei feliz com uma leitura conclusiva na Física, embora muitos e
muitos livros belíssimos eu tenha lido em tantas áreas. Ainda não é um livro
que descreva a totalidade das abordagens da Física, um Dicionárienciclopédico (D/E) de Física, mas já é um começo
relevante, donde podemos esperar passos de gigante.
Por vezes, em meio ao
desespero, surge uma luz, um brilho que promete a reunião de enormes
divergências pretéritas. Isso só pode mesmo nos deixar alegres.
Vitória, sexta-feira, 19
de abril de 2002.
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