Assimilação
do Ocidente
Assimilação tem muitos
sentidos: absorção, apropriação, identificação, conquista, e estes termos ainda
outros. Podemos pensar também em
percepção, compreensão, como quando se diz que uma pessoa assimilou o que outra
falou.
Pois bem, a China vem
assimilando o Ocidente neste último sentido, mas os antichineses se prenderão
aos demais sentidos, diante do sempre potencializado “perigo amarelo”, de
tempos em tempos desenterrado e renovado.
Hong Kong, praticamente
uma cidade só numa ilha (1.067 km2, cerca de 20 vezes a ilha de Vitória, ES) da
baía de Cantão (porto e cidade situada na província de Guangdong, sul da China)
foi cedida aos ingleses em 1842 e devolvida por eles em 1997, tendo ficado em
sua posse por 155 anos, o que nos parece uma eternidade. É tida como a economia mais liberal do mundo, mesmo depois da
reincorporação, com escritórios de 2,3 mil multinacionais, incluindo 85 dos 100
maiores bancos do mundo. Tem uns seis milhões de habitantes, frente aos 1.300
milhões da China, mais de 200 vezes menos que a antiga e atual pátria. O PIB
passa dos 200 bilhões de dólares americanos.
Macau era uma província
de apenas 16 km2, em posse dos portugueses desde 1557, foi devolvida em 1999,
depois de 442 anos. Tem uns 500 mil habitantes e é muitíssimo menos importante
que HK. Fica do outro lado da mesma baía.
Taiwan ou Formosa nunca
foi ocidental, mas foi ocidentalizada. Tem apenas 36.202 km2 (menos que o ES,
com 45.597 km2), mas um PIB de US$ 314 bilhões no ano 2000. Em 1949, derrotados
pelo Partido Comunista da China, PCC, Chiang Kai-shek e seus partidários
fugiram para a ilha e a desenvolveram à Ocidente.
Quanto ao PIB chinês,
ninguém sabe ao certo. É dado como sendo de perto de um trilhão de dólares em
1999 pelo Almanaque Abril/2000, mas estimado em PIB-produto pensa-se que pode
chegar aos dois ou três trilhões.
Mesmo contando o PIB
visível, a soma de HK, Taiwan e China pode chegar a US$ 1,5 trilhão, o que faz
do conjunto a quarta economia do mundo, atrás dos EUA (9,2 trilhões), Japão
(4,3 trilhões) e Alemanha (2,1 trilhões), situando-se à frente da França (1,4
trilhão), Grã-Bretanha ou Reino Unido (1,4 trilhão) e Itália (1,2 trilhão),
todos em 1999.
Os chineses são
pacientes e para eles curto, médio e longo prazo não têm o mesmo sentido que
para nós, podendo lá ser dez vezes tanto quanto aqui. Se para nós curto prazo
seriam cinco anos, lá seriam 50 anos. Eles esperam a absorção dos estrangeiros
e dos estrangeirismos.
Parece que brigam com
Taiwan, mas isso é tudo “fotopotoca”, como se dizia há algumas décadas, tudo
pose “para inglês (e americano) ver”. Enquanto isso vão absorvendo a
tecnociência ocidental. Vão assimilando as diferenças em relação ao mundo –
tanto seu entorno imediato, Japão em particular e Ásia em geral, quanto Europa,
África, Austrália, Américas (do Sul, Central e do Norte). O certo é que alguns
julgam que dentro de 30 anos o PIB chinês pode chegar a 20 ou 30 trilhões, a
menos de uma catástrofe.
Na prática, mesmo, o Ocidente entregou gentilmente três áreas de
transferência de tecnociência, que os chineses pegaram com gosto, bastando
esperar 500 anos. E que são 500 anos para eles, que já estão por lá há oito mil
anos? Só como civilização contínua, já há três mil e quinhentos anos. Os
chineses agem como um só, em bloco, enquanto o Ocidente se separa em centenas
de peças.
No início parecia que os
ocidentais estavam assimilando a China. Só agora estamos vendo o que de fato
aconteceu.
Vitória, segunda-feira,
06 de maio de 2002.
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