O Salto Ocidental
Se
você coloca um plano vertical, um corte em 476, ano que marcou a Queda do Império Romano do Ocidente,
chamada de Queda de Roma, e outro em 1453, ano da Queda do Império Romano do Oriente, dita, Queda de Constantinopla,
há aí um intervalo de 977 anos, que, por aproximação, as pessoas chamam de Mil
Anos de Trevas da Idade Média.
Historiadores
já provaram sobejamente que esteve longe
de ser um milênio de paralisia; as pessoas inventaram muito, em todos os
setores, como não poderia deixar de ser – a mente humana é inventiva por
natureza, em todos os lugares e tempos. Foi um período de grande atividade, mas
não essas que são prezadas agora, e porisso elas tendem a ser ignoradas ou
desprezadas.
Por
outro lado, estive pensando, por quê o Ocidente foi capaz de dar esse salto que
o distingue do Oriente, do Mundo Árabe, da África, da América pré-colombiana
(não me venha dizer que a Cidade do México rivalizava com as cidades européias;
na Suméria, em 3500 a.C. existiam cidades iguais ou maiores, e os pesquisadores
provaram que o calendário Maia, tão afamado, contém não só os acertos como até
os erros dos sumerianos), ou da China, ou do Japão pré-português ? A China-Han,
século II a.C. até século III d.C. inventou muito, fez progredir as artes e
ofícios, a população cresceu extraordinariamente, mas ela não deu o salto.
Não
foi também a ética protestante do trabalho, porque países católicos foram
juntos, e ATÉ FORAM ANTES, como os países católicos renascentistas, ou Portugal
e Espanha, quando os do norte ainda comportavam-se como tribos.
Bem,
eu penso que o motivo real foi Jesus.
Foi
a religião cristã, sim, ao diminuir o fosso entre o antigo patrício
greco-romano e o escravo, daí resultando que ao final do período existiam
nobres e servos, mas não escravos. A diferença é que servos tem alma, e
escravos não. Para os servos as outras classes ou eles mesmos podem e devem
inventar máquinas que poupem o trabalho, mas para o escravo isso é
desnecessário. Se há uma pequena cúpula lá em cima, com a grande massa
desprezada em baixo, para quê poupar trabalho dos que são não-pessoas ? Sendo
os servos pessoas, podia-se e devia-se poupá-los da escravidão do trabalho
pesado demais, inventando-se máquinas substitutivas. E depois as mulheres
adquiriram alma, e as cozinhas encheram-se de máquinas, aparelhos,
instrumentos, objetos variadíssimos. Depois foi a vez dos índios, logo após
1550, a seguir a dos negros, a partir dos 1800, e agora outras minorias vão
sendo incorporadas. Enfim, o mundo ocidental encheu-se de solicitações, vieram
as fábricas para um público maior, e quanto mais as bases recebiam consideração
do topo, mais a socioeconomia crescia.
Quem
promoveu essa transformação ?
Falando
diretamente, objetivamente no plano geográfico-histórico, foi Jesus, foram seus
mártires, que aproximaram o topo das bases, que fizeram os “de cima” ter consideração pelos “de baixo”.
E,
é claro, o Japão foi cristianizado, apesar de não ter adotado os ritos.
Primeiro quando conheceu os portugueses, depois na reabertura dos portos em
1868, na Restauração Meiji, a seguir com a imposição da constituição de fundo
cristão pelos EUA logo em seguida à derrota em 1945. De forma que o Japão pôde
distribuir amplamente seus produtos. E a China também, através do contato com o
Ocidente, via Inglaterra, e mais recentemente no Caminho das Duas Vias, em que ela é simultaneamente capitalista e
socialista.
Mas
quem não tenha feito essa conversão, como por exemplo os árabes, os africanos e
até os sul-americanos, há um grupo mínimo no topo e uma base muito ampla
desprovida dos menores recursos. Então estou dizendo que a América do Sul não
foi suficientemente cristianizada ? É verdade, não foi. Há pouca consideração
pelos pobres e miseráveis. Jesus disse:
pobres haveis de tê-los para sempre. É verdade, estatisticamente sempre
haverá pobres e miseráveis. É o ESTÁGIO DE POBREZA E MISÉRIA que fala dos
avanços de um país. E os pobres e miseráveis na América do Sul SÃO MUITO POBRES
E MUITO MISERÁVEIS. Não há uma base bastante grande para socioeconomia de alta
escala.
Tomemos
os árabes. Tendo como marco zero o ano de 622 da Era Cristã (EC) para a Hégira,
a fuga de Maomé de Meca, passaram-se até agora quase 1380 anos. Mas, nesse tempo, os árabes não promoveram a
elevação dos que estão nas bases, e porisso nem a curto, nem a médio, nem a
longo prazo podemos contar por lá com a exigência de mecanização das indústrias,
da agricultura/extrativismo, do
comércio, dos serviços e dos bancos. Eles apenas vão seguindo o Ocidente,
enquanto tiverem o tal Ouro Negro, o petróleo, cujo horizonte de esgotamento
mais tardio calculado agora é 2040. Mesmo com dificuldade o Ocidente pode
aplicar-se na descoberta de uma nova fonte energética, mas o que será desse 1,3
bilhão multiplicativo de árabes quando não houver mais petrodólares ? O
islamismo e as lideranças árabes ainda não conseguiram aquela conversão que o
cristianismo e as lideranças ocidentais obtiveram dentro de si, por forçamento
dos exemplos de Jesus e dos mártires. São duas religiões diferentes: uma, conquistadora do ambiente, ainda que do
outro lado cheia de bondade, aceitando essa distância entre os que têm e os que
não têm. A outra, compassiva, aceitando
mansamente a transformação humana, pregando abertamente a plena igualdade
de todos os seres humanos (e, veja como foi difícil, demorou dois mil anos e
ainda não terminou).
Se
a empregada da minha casa não é humana, para quê comprarei máquina de lavar
roupas, máquina de lavar pratos, multiplanetária, um televisor colorido para ela, etc. ? Vê a diferença ?
Porisso
o Ocidente deu o salto adiante das outras civilizações e as guia. E enquanto o
cristianismo continuar a aproximar as pessoas umas das outras (sob que nome
for: por exemplo, democracia), continuará sendo assim.
Vitória,
quarta-feira, 19 de dezembro de 2001.
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