Uma
Questão de Atualidade
Por três décadas a
questão do espaço e do tempo tem me incomodado, porque a gente cresce com as
pessoas falando a torto e a direito sobre isso, em particular dividindo o tempo
em passado, presente e futuro. Escrevendo o modelo, descartei passado e futuro,
mas não cheguei a dar-lhes nomes substitutos. Existe uma explicação simples
para o futuro não existir: ele depende do presente, que estamos decidindo agora
mesmo. Os físicos calcularam, grosso modo, a população de partículas do
universo como sendo 10 elevado a 70, o que é um punhado grande. SE o mundo é
50/50, a liberdade inerente torna os futuros
prováveis demasiados.
O mesmo vale para o
passado, porquanto poderíamos recuar esse cálculo para o primeiro instante.
Haver futuros ou passados PROVÁVEIS quer dizer que todas aquelas partículas
deveriam existir em todos os instantes do tempo. Como Stephen Hawking calculou
que a propriedade métrica (espacial) deste universo desaparece em 10 elevado a
menos 35 m, na equação v = x/t, sendo v = c, velocidade da luz, calculei que o
universo pulsa a 10 elevado a menos 44 s, o que vem a ser um tempo bem pequeno.
Pois bem, todas aquelas
partículas deveriam existir desde o início do universo, que deve ter acontecido
há uns 15 bilhões de anos, e multiplicando esses anos pelo pulso elementar do
universo teríamos cinco elevado a sessenta e um. Ou seja, imaginando aquele
mundo de partículas existindo todo o tempo, ele teria que ser replicado esse
tanto de vezes como outras tantas telas. E onde caberia isso tudo? E por quê,
principalmente?
Então, recentemente
passei a chamar o passado de anterioridade, o presente de atualidade e o futuro
de posteridade. Não é questão de mudança de nomes, apenas, porque não há
passado, nem presente, nem futuro. O que há, mesmo, é o acavalamento de tudo na
atualidade. Passado é o conjunto das atualidades de que nos lembramos, futuro
são as atualidade em que ainda estaremos (ou não). Jesus não está em nenhum
passado, há 2000 anos, está aqui-e-agora, neste exato momento. A Clarice
Lispector chamava a atualidade de É, ou é-da-coisa, a linha finíssima sobre a
qual existimos, e dizia que a palavra mais importante da língua só tinha uma
letra.
O caso é que vamos
esquecendo, todos nós. As pedras vão esquecendo, os animais, tudo vai se
perdendo, SE NÃO FOR GUARDADO. Os dinossauros não estão há 170 milhões de anos,
os restos deles, o que sobrou deles está na atualidade. O que se perdeu de
Colombo não retornará – vai definhando aos poucos, esmaecendo as tintas no
quadro da atualidade onde ele vive seu drama. Então, a responsabilidade dos
geo-historiadores aumenta mais ainda.
Ademais, com esse novo
tempo sendo um ponto, ele deixa de ser um vetor e, portanto, a polêmica entre
os que pregam a linearidade e a circularidade (com o eterno retorno), perde o
sentido. CONSEQUENTEMENTE, também, sendo um número, há uma métrica inerente de
frações. Com isso o tempo se torna absoluto, ao que tudo mais está preso, o que
é invariável.
Por outro lado o espaço
é um vetor triortogonal, como está posto, cujo zero vem a ser justamente o
tempo pontual. Tão simples quanto isso, desaparecendo as viagens no tempo, para
o passado ou o futuro, com todos os paradoxos (que são derivados de definições
falhas) cancelados automaticamente. E não há mais mundos tetradimensionais, nem
muito menos multidimensionais, só o conhecido mundo em que vivemos. Nem uns
acima de outros, nem outros mais espertos que os primeiros. Os cientistas não
podem mais abrir uma FENDA PSICOLÓGICA DE DESCONHECIMENTO entre o povo e as
elites, que podem, assim, voltar a constituir o povelite, ou nação, como
chamei, fechando o fosso que estava se abrindo entre os que possuíam e os que
não possuíam conhecimento – em prol de vida mais feliz de pessoas que se
identificam, independente do que estão no momento fazendo.
Vitória, quinta-feira, 03
de janeiro de 2002.
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