Thursday, October 31, 2013

Uma Questão de Atualidade (da série Expresso 222..., Livro 1)


Uma Questão de Atualidade

 

                        Por três décadas a questão do espaço e do tempo tem me incomodado, porque a gente cresce com as pessoas falando a torto e a direito sobre isso, em particular dividindo o tempo em passado, presente e futuro. Escrevendo o modelo, descartei passado e futuro, mas não cheguei a dar-lhes nomes substitutos. Existe uma explicação simples para o futuro não existir: ele depende do presente, que estamos decidindo agora mesmo. Os físicos calcularam, grosso modo, a população de partículas do universo como sendo 10 elevado a 70, o que é um punhado grande. SE o mundo é 50/50, a liberdade inerente torna os futuros prováveis demasiados.

                        O mesmo vale para o passado, porquanto poderíamos recuar esse cálculo para o primeiro instante. Haver futuros ou passados PROVÁVEIS quer dizer que todas aquelas partículas deveriam existir em todos os instantes do tempo. Como Stephen Hawking calculou que a propriedade métrica (espacial) deste universo desaparece em 10 elevado a menos 35 m, na equação v = x/t, sendo v = c, velocidade da luz, calculei que o universo pulsa a 10 elevado a menos 44 s, o que vem a ser um tempo bem pequeno.

                        Pois bem, todas aquelas partículas deveriam existir desde o início do universo, que deve ter acontecido há uns 15 bilhões de anos, e multiplicando esses anos pelo pulso elementar do universo teríamos cinco elevado a sessenta e um. Ou seja, imaginando aquele mundo de partículas existindo todo o tempo, ele teria que ser replicado esse tanto de vezes como outras tantas telas. E onde caberia isso tudo? E por quê, principalmente?

                        Então, recentemente passei a chamar o passado de anterioridade, o presente de atualidade e o futuro de posteridade. Não é questão de mudança de nomes, apenas, porque não há passado, nem presente, nem futuro. O que há, mesmo, é o acavalamento de tudo na atualidade. Passado é o conjunto das atualidades de que nos lembramos, futuro são as atualidade em que ainda estaremos (ou não). Jesus não está em nenhum passado, há 2000 anos, está aqui-e-agora, neste exato momento. A Clarice Lispector chamava a atualidade de É, ou é-da-coisa, a linha finíssima sobre a qual existimos, e dizia que a palavra mais importante da língua só tinha uma letra.

                        O caso é que vamos esquecendo, todos nós. As pedras vão esquecendo, os animais, tudo vai se perdendo, SE NÃO FOR GUARDADO. Os dinossauros não estão há 170 milhões de anos, os restos deles, o que sobrou deles está na atualidade. O que se perdeu de Colombo não retornará – vai definhando aos poucos, esmaecendo as tintas no quadro da atualidade onde ele vive seu drama. Então, a responsabilidade dos geo-historiadores aumenta mais ainda.

                        Ademais, com esse novo tempo sendo um ponto, ele deixa de ser um vetor e, portanto, a polêmica entre os que pregam a linearidade e a circularidade (com o eterno retorno), perde o sentido. CONSEQUENTEMENTE, também, sendo um número, há uma métrica inerente de frações. Com isso o tempo se torna absoluto, ao que tudo mais está preso, o que é invariável.

                        Por outro lado o espaço é um vetor triortogonal, como está posto, cujo zero vem a ser justamente o tempo pontual. Tão simples quanto isso, desaparecendo as viagens no tempo, para o passado ou o futuro, com todos os paradoxos (que são derivados de definições falhas) cancelados automaticamente. E não há mais mundos tetradimensionais, nem muito menos multidimensionais, só o conhecido mundo em que vivemos. Nem uns acima de outros, nem outros mais espertos que os primeiros. Os cientistas não podem mais abrir uma FENDA PSICOLÓGICA DE DESCONHECIMENTO entre o povo e as elites, que podem, assim, voltar a constituir o povelite, ou nação, como chamei, fechando o fosso que estava se abrindo entre os que possuíam e os que não possuíam conhecimento – em prol de vida mais feliz de pessoas que se identificam, independente do que estão no momento fazendo.

                        Vitória, quinta-feira, 03 de janeiro de 2002.

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