Thursday, October 31, 2013

CNTP (da série Expresso 222..., Livro 2)


CNTP

 

                        Quando a gente entra na faculdade, ou antes, ainda, no segundo grau, falam para nós nas tais CNTP, Condições Normais de Temperatura e Pressão. Nós a aceitamos, devido ao detestável Princípio da Autoridade, a suposição injustificada de que há alguém que sabe (inquestionavelmente) mais, e sabe corretamente, e da qual felizmente Galileu com sua resistência e Descartes com sua obstinação nos defenderam, este com a DÚVIDA METÓDICA, isto é, configurada como método, como modelo, insistentemente.

                        Bom, devemos dividir o atual questionamento em quatro partes, a saber:

1)      O que são CONDIÇÕES? No Michaelis da máquina, condição é “s.f. 1. Circunstância externa de que dependem as pessoas. 2. Base de um acordo, convenção entre pessoas. 3. Maneira de ser, natureza, estado ou qualidade de uma pessoa ou coisa: C. humana. 4. Obrigação, encargo”. Circunstâncias externas normais de temperatura e pressão. Se é externa é o que nos envolve, o ambiente, neste caso o da Terra. Mas desde Copérnico sabemos que a Terra gira em torno do Sol e que o chamado espaçotempo profundo mostrou bilhões de anos e bilhões de anos-luz, de modo que o ET, o que é externo, cresceu muito. As condições ou circunstâncias externas não podem mais ser apenas a do planeta. E condições têm também o sentido de definições. Definições de normalidade. Convenções de normalidade.

2)      O que é NORMAL? Os psicólogos encontram muita dificuldade em definir normalidade, mas na matemática, onde significa perpendicular, tem um sentido preciso, bem como na Física. No Michaelis é “adj. m. e f. 1. Conforme à norma; regular. 2. Exemplar, modelar. 3. Geom. Perpendicular. 4. Geom. Diz-se da linha perpendicular à tangente de uma curva. 5. Geom. A linha normal”. Se é perpendicular à tangente, aponta o centro, isto é, o que é comum a todos. Não pode ser um exemplo só, o da Terra. Não podem ser “condições normais” da Terra, apenas, devem ser as do universo inteiro. Se forem só as da Terra deveríamos anotar CNTP(t) ou CN(t)TP, Condições Normais Terrestres de Temperatura e Pressão. Parece um preciosismo, mas não é. Tal anotação nos fará pensar que a Terra pode não apontar o centro, o que é realmente média ou norma. Sob as CN(U)TP, Condições Normais Universais (ou médias) de Temperatura e Pressão, a Tabela Periódica dos Elementos, de Mendeleiev, poderia se apresentar de forma diferente, que é o que penso que acontecerá, e ser assim mais proveitosamente organizada, permitindo uma visão mais clara e lúcida.

3)     O que é TEMPERATURA? Bom, sabemos agora que é o estado de vibração das moléculas, ou seja, a distância que elas guardam do repouso absoluto, ou zero grau Kelvin, ºK. Na realidade, do fundo de radiação. É não só uma medida de entropia ou desordem, a agitação térmica, como das condições de manipulação ou construtividade da matéria. Qual é a média de temperatura do universo? Um alienígena reconheceria na T das CNTP as condições ou definições ou convenções universais, as que expressassem as equações ou relações causais com maior simplicidade? Decerto que não. Na Curva do Sino ou das Probabilidades ou de Gauss, relativa aos grandes números, a chance de a Terra cair exatamente na média é de 1/∞, ou quase isso, próxima de zero (na verdade um pouco mais, dado que a materenergia do universo é finita). Realmente, como o Sol é um G0 no diagrama H-R, estando na média, é bem maior que isso.

4)     O que é PRESSÃO? Por definição, é a quantidade de força por unidade de área, por exemplo, newtons por metro quadrado, N/m2. O que é METRO QUADRADO? Por definição é um meridiano da Terra, o círculo máximo (que passa pelos pólos), pouco mais de 40 mil quilômetros, dividido por quatro, depois pouco mais de 10 milhões de metros divididos por 10 milhões, resultando no que era o metro/medida e depois se constatou que é ligeiramente maior que um. Nitidamente isso depende da circunferência da Terra, que é uma medida provincial, local, não-universal. E FORÇA é a designação (errada) de campartícula ou onda, muitas vezes tomada como energia. É representada por uma seta, que nesse caso se espalharia matematicamente como infinitas setas, cada uma localizada num dos infinitos pontos da área. Fisicamente seriam tantas setas quanto fossem as partículas fundamentais, nas dimensões de Planck, ou, mais para cima, os átomos. Claro que, como a força tem aplicação local, ela se dirige preferencialmente a uns e não a outros átomos, tendo um tempo de retardo de espalhamento.

Podemos ver que qualquer investigação é muito mais interessante que deixar a coisa toda pairando (e parando) numa afirmação inquestionada de condicionalidade da temperatura e pressão à normalidade terrestre. Uma brutalidade dessas, de mostrar sem maiores explicações, sem maiores indagações, as CNTP, conduz ao quietismo, à aceitação sossegada e burra do mesmo autoritarismo (no modelo todo “ismo” é doença do info-controle mais apto, agoraqui a humanidade) que a Tecnociência negou desde 500 anos atrás.

A T/C reafirma aquilo a que se opôs terminantemente, e com grande dor, durante cinco séculos.

E assim eu vi acontecer com numerosíssimos conceitos, por toda a T/C, da Física à Química, e até as filosofias que ainda não realizaram o chamado “corte epistemológico”.

Uma indagação que renderá muitas teses de mestrado e doutorado é: por quê os pesquisadores aceitaram e aceitam as incongruências e as definições ligeiras sem questionar? O que é que, neles, faz com que a necessidade de sobrevivência (de pessoa: indivíduo, família, grupo e empresa, e de ambiente: município/cidade, estado, nação e mundo) sobrepasse a dialógica (lógica e dialética) mais precisa e rigorosa? Em outros termos, por que se contentam com serem tranqüilamente rasos, superficiais? Será certamente aquela necessidade de sobrevivência com o mínimo de gasto de energia, ou seja, o oportunismo, a sobreafirmação da oportunidade, a mesma que faz decair, como disse Gut com repugnância (que eu partilho), a busca em comodidades, em caderninhos, em apostilhas, em livros textos “aceitáveis” e “recomendáveis”.

Nem os pesquisadores nem suas instituições questionam os termos das definições, o que é verdadeiramente o desastre que eu quis apontar neste texto.

Vitória, terça-feira, 21 de maio de 2002.

 

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