CNTP
Quando a gente entra na
faculdade, ou antes, ainda, no segundo grau, falam para nós nas tais CNTP, Condições Normais de Temperatura e
Pressão. Nós a aceitamos, devido ao detestável Princípio da Autoridade,
a suposição injustificada de que há alguém que sabe (inquestionavelmente) mais,
e sabe corretamente, e da qual felizmente Galileu com sua resistência e
Descartes com sua obstinação nos defenderam, este com a DÚVIDA METÓDICA, isto
é, configurada como método, como modelo, insistentemente.
Bom, devemos dividir o
atual questionamento em quatro partes, a saber:
1) O que são CONDIÇÕES? No Michaelis da
máquina, condição é “s.f. 1. Circunstância externa de que dependem as pessoas.
2. Base de um acordo, convenção entre pessoas. 3. Maneira de ser, natureza, estado
ou qualidade de uma pessoa ou coisa: C. humana. 4. Obrigação, encargo”. Circunstâncias externas normais de
temperatura e pressão. Se é externa é o que nos envolve, o ambiente, neste
caso o da Terra. Mas desde Copérnico sabemos que a Terra gira em torno do Sol e
que o chamado espaçotempo profundo mostrou bilhões de anos e bilhões de anos-luz,
de modo que o ET, o que é externo, cresceu muito. As condições ou
circunstâncias externas não podem mais ser apenas a do planeta. E condições têm
também o sentido de definições. Definições de normalidade. Convenções de normalidade.
2) O que é NORMAL? Os psicólogos
encontram muita dificuldade em definir normalidade, mas na matemática, onde
significa perpendicular, tem um sentido preciso, bem como na Física. No
Michaelis é “adj. m. e f. 1. Conforme à norma; regular. 2. Exemplar, modelar.
3. Geom. Perpendicular. 4. Geom. Diz-se da linha perpendicular à tangente de
uma curva. 5. Geom. A linha normal”. Se é perpendicular à tangente, aponta o
centro, isto é, o que é comum a todos. Não pode ser um exemplo só, o da Terra.
Não podem ser “condições normais” da Terra, apenas, devem ser as do universo
inteiro. Se forem só as da Terra deveríamos anotar CNTP(t) ou CN(t)TP,
Condições Normais Terrestres de Temperatura e Pressão. Parece um
preciosismo, mas não é. Tal anotação nos fará pensar que a Terra pode não
apontar o centro, o que é realmente média ou norma. Sob as CN(U)TP, Condições Normais
Universais (ou médias) de Temperatura e Pressão, a Tabela Periódica
dos Elementos, de Mendeleiev, poderia se apresentar de forma diferente, que
é o que penso que acontecerá, e ser assim mais proveitosamente organizada,
permitindo uma visão mais clara e lúcida.
3) O que é TEMPERATURA? Bom, sabemos
agora que é o estado de vibração das moléculas, ou seja, a distância que elas
guardam do repouso absoluto, ou zero grau Kelvin, ºK. Na realidade, do fundo de
radiação. É não só uma medida de entropia ou desordem, a agitação térmica, como
das condições
de manipulação ou construtividade da matéria. Qual é a média de
temperatura do universo? Um alienígena reconheceria na T das CNTP as condições
ou definições ou convenções universais, as que expressassem as equações ou
relações causais com maior simplicidade? Decerto que não. Na Curva do Sino ou
das Probabilidades ou de Gauss, relativa aos grandes números, a chance de a Terra cair exatamente na
média é de 1/∞, ou quase isso, próxima de zero (na verdade um pouco mais,
dado que a materenergia do universo é finita). Realmente, como o Sol é um G0 no
diagrama H-R, estando na média, é bem maior que isso.
4) O que é PRESSÃO? Por definição, é a
quantidade de força por unidade de área, por exemplo, newtons por metro
quadrado, N/m2. O que é METRO QUADRADO? Por definição é um meridiano
da Terra, o círculo máximo (que passa pelos pólos), pouco mais de 40 mil
quilômetros, dividido por quatro, depois pouco mais de 10 milhões de metros
divididos por 10 milhões, resultando no que era o metro/medida e depois se
constatou que é ligeiramente maior que um. Nitidamente isso depende da circunferência
da Terra, que é uma medida provincial, local, não-universal. E FORÇA é a
designação (errada) de campartícula ou onda, muitas vezes tomada como energia.
É representada por uma seta, que nesse caso se espalharia matematicamente como
infinitas setas, cada uma localizada num dos infinitos pontos da área.
Fisicamente seriam tantas setas quanto fossem as partículas fundamentais, nas
dimensões de Planck, ou, mais para cima, os átomos. Claro que, como a força tem
aplicação local, ela se dirige preferencialmente a uns e não a outros átomos,
tendo um tempo de retardo de espalhamento.
Podemos ver que qualquer
investigação é muito mais interessante que deixar a coisa toda pairando (e
parando) numa afirmação inquestionada de condicionalidade da temperatura e pressão
à normalidade terrestre. Uma brutalidade dessas, de mostrar sem maiores
explicações, sem maiores indagações, as CNTP, conduz ao quietismo, à aceitação
sossegada e burra do mesmo autoritarismo (no modelo todo “ismo” é doença do
info-controle mais apto, agoraqui a humanidade) que a Tecnociência negou desde
500 anos atrás.
A T/C reafirma aquilo a que se opôs
terminantemente, e com grande dor, durante cinco séculos.
E assim eu vi acontecer com
numerosíssimos conceitos, por toda a T/C, da Física à Química, e até as
filosofias que ainda não realizaram o chamado “corte epistemológico”.
Uma indagação que renderá muitas
teses de mestrado e doutorado é: por quê os pesquisadores aceitaram e aceitam
as incongruências e as definições ligeiras sem questionar? O que é que, neles,
faz com que a necessidade de sobrevivência (de pessoa: indivíduo, família,
grupo e empresa, e de ambiente: município/cidade, estado, nação e mundo)
sobrepasse a dialógica (lógica e dialética) mais precisa e rigorosa? Em outros
termos, por que se contentam com serem tranqüilamente rasos, superficiais? Será
certamente aquela necessidade de sobrevivência com o mínimo de gasto de
energia, ou seja, o oportunismo, a sobreafirmação da oportunidade, a mesma que
faz decair, como disse Gut com repugnância (que eu partilho), a busca em
comodidades, em caderninhos, em apostilhas, em livros textos “aceitáveis” e
“recomendáveis”.
Nem os pesquisadores nem suas
instituições questionam os termos das definições, o que é verdadeiramente o
desastre que eu quis apontar neste texto.
Vitória, terça-feira, 21 de maio de
2002.
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