Espelho
Mágico
Michio Kaku, no seu
livro Visões do Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de
Janeiro, Rocco, 2001, página 119, diz: “Até 2050, esperamos que os sistemas de
IA tenham uma modesta amplitude de emoções. Sistemas inteligentes serão então
de fato onipresentes, animando muitos dos objetos à nossa volta e até
partilhando alguns de nossos sentimentos. A Internet, então, terá se
transformado num Espelho Mágico, capaz não só de ter acesso a toda a base de
dados do conhecimento, como também de conversar e brincar conosco”, colorido
meu.
IA é inteligência
artificial que, dependendo só das atuais linhas de pesquisa, jamais iria
existir, porque é preciso antes desenvolver a computação paralela, como
escrevi. Ela só será onipresente se primeiro e existir, e puder prosperar. E se
existir e começar a evoluir/revoluir/re-evoluir, se tornará vida autônoma,
independente de nós, a primeira que criaremos, a par de outras. SE existir,
deve ser multiplicada; se for multiplicada, cabe perguntar qual o sentido da
onipresença. Só ELI, Natureza/Deus, Ela/Ele é onipresente, e assim mesmo na sua
porção Natureza.
Bom, aí vem a pergunta
de porquê as pessoas veriam a MICA (memória/inteligência/controle artificial)
como Espelho Mágico.
Mágico é aquilo que tem
causa desconhecida.
Há uma quantidade
inumerável de coisas fantásticas em nosso mundo, da escrita à roda, em milhões
de itens totalmente surpreendentes e que não julgamos, de modo algum, mágicos.
São triviais para nós, embora não os entendamos. Quantos entendem o
funcionamento de um elevador? Sob a ótica de um primitivo ele entraria num
cubículo, diante do qual estão certas formas da sala anexa, ficaria alguns
instantes e sairia diante de outra sala e corredor, que dariam para vários
apartamentos ou escritórios cheios de coisas diferentes das quais havia visto
momentos antes. PARA UM PRIMITIVO, SIM, seria mágico, porque ele não tem
entendimento algum. Apesar de não saberem profundamente, até os detalhes, como
os elevadores funcionam, as pessoas leigas entendem que é uma caixa que sobe e
desce por um poço, denominado “poço do elevador” (e elevador/baixador é a
máquina que faz a operação. Só não é usado o termo “baixador” porque ele
primeiro deve elevar para em seguida baixar).
De todas as coisas já
produzidas pela humanidade nós não sabemos senão resíduos, mesmo os
tecnocientistas que as fizeram, ou quaisquer pesquisadores, pois constituem um
número muito grande. Ainda assim, é certo que, mesmo tendo apenas vaga idéia de
seu funcionamento, isso nos tranqüiliza, e nega o aspecto mágico.
Para ser mágico tem de
ser totalmente desconhecido, deve ser operado fora da realidade imediata do
observador.
É porisso mesmo que,
depois de iniciada a revolução tecnocientífica, ou mesmo filosófica/ideológica,
desde que alguém começou a duvidar (não foi Descartes, isso vem desde os
primórdios) a Magia vem perdendo campo e adeptos. Mais definidamente desde a
dúvida sistemática cartesiana, nenhuma pessoa que a pratique se deixaria
enganar.
Se um grego antigo, das elites
pensantes, fosse posto na realidade atual, mesmo achando tudo admirável e
espantoso, não acreditaria em nenhuma magia.
Na realidade, essa Internet “onipresente” seria tratada
com tanta desconsideração quanto um liquidificador, que pode ser visto como
um copo grande dentro do qual colocamos pedaços de alimentos sólidos e obtemos
pastas de variadas densidades. Apertamos um botão e pimba!, faz um barulhinho e
dentro de minutos temos uma vitamina.
A dialética diz que quanto
mais se apresenta uma coisa menos ela é notada; quanto mais “onipresente” se
fizer a Internet menos valor daremos a esse portento. Deus só é supervalorizado
porque ninguém o vê, está completamente ausente. Se batesse todo dia à nossa
porta acabaríamos por ficar irritados, mesmo em se tratando do CRIADOR DO
UNIVERSO, com tudo que isso significa.
Como diz o povo, quem
não sabe rezar xinga a Deus.
Quem não sabe pensar,
quem não se dedica a aprofundar suas afirmações, acaba por ficar na superfície
de tudo, apenas induzindo os outros a erros.
Vitória, terça-feira, 14
de maio de 2002.
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