Thursday, October 31, 2013

Espelho Mágico (da série Expresso 222..., Livro 2)


Espelho Mágico

 

                        Michio Kaku, no seu livro Visões do Futuro (como a ciência revolucionará o século XXI), Rio de Janeiro, Rocco, 2001, página 119, diz: “Até 2050, esperamos que os sistemas de IA tenham uma modesta amplitude de emoções. Sistemas inteligentes serão então de fato onipresentes, animando muitos dos objetos à nossa volta e até partilhando alguns de nossos sentimentos. A Internet, então, terá se transformado num Espelho Mágico, capaz não só de ter acesso a toda a base de dados do conhecimento, como também de conversar e brincar conosco”, colorido meu.

                        IA é inteligência artificial que, dependendo só das atuais linhas de pesquisa, jamais iria existir, porque é preciso antes desenvolver a computação paralela, como escrevi. Ela só será onipresente se primeiro e existir, e puder prosperar. E se existir e começar a evoluir/revoluir/re-evoluir, se tornará vida autônoma, independente de nós, a primeira que criaremos, a par de outras. SE existir, deve ser multiplicada; se for multiplicada, cabe perguntar qual o sentido da onipresença. Só ELI, Natureza/Deus, Ela/Ele é onipresente, e assim mesmo na sua porção Natureza.

                        Bom, aí vem a pergunta de porquê as pessoas veriam a MICA (memória/inteligência/controle artificial) como Espelho Mágico.

                        Mágico é aquilo que tem causa desconhecida.

                        Há uma quantidade inumerável de coisas fantásticas em nosso mundo, da escrita à roda, em milhões de itens totalmente surpreendentes e que não julgamos, de modo algum, mágicos. São triviais para nós, embora não os entendamos. Quantos entendem o funcionamento de um elevador? Sob a ótica de um primitivo ele entraria num cubículo, diante do qual estão certas formas da sala anexa, ficaria alguns instantes e sairia diante de outra sala e corredor, que dariam para vários apartamentos ou escritórios cheios de coisas diferentes das quais havia visto momentos antes. PARA UM PRIMITIVO, SIM, seria mágico, porque ele não tem entendimento algum. Apesar de não saberem profundamente, até os detalhes, como os elevadores funcionam, as pessoas leigas entendem que é uma caixa que sobe e desce por um poço, denominado “poço do elevador” (e elevador/baixador é a máquina que faz a operação. Só não é usado o termo “baixador” porque ele primeiro deve elevar para em seguida baixar).

                        De todas as coisas já produzidas pela humanidade nós não sabemos senão resíduos, mesmo os tecnocientistas que as fizeram, ou quaisquer pesquisadores, pois constituem um número muito grande. Ainda assim, é certo que, mesmo tendo apenas vaga idéia de seu funcionamento, isso nos tranqüiliza, e nega o aspecto mágico.

                        Para ser mágico tem de ser totalmente desconhecido, deve ser operado fora da realidade imediata do observador.

                        É porisso mesmo que, depois de iniciada a revolução tecnocientífica, ou mesmo filosófica/ideológica, desde que alguém começou a duvidar (não foi Descartes, isso vem desde os primórdios) a Magia vem perdendo campo e adeptos. Mais definidamente desde a dúvida sistemática cartesiana, nenhuma pessoa que a pratique se deixaria enganar.

                        Se um grego antigo, das elites pensantes, fosse posto na realidade atual, mesmo achando tudo admirável e espantoso, não acreditaria em nenhuma magia.

                        Na realidade, essa Internet “onipresente” seria tratada com tanta desconsideração quanto um liquidificador, que pode ser visto como um copo grande dentro do qual colocamos pedaços de alimentos sólidos e obtemos pastas de variadas densidades. Apertamos um botão e pimba!, faz um barulhinho e dentro de minutos temos uma vitamina.

                        A dialética diz que quanto mais se apresenta uma coisa menos ela é notada; quanto mais “onipresente” se fizer a Internet menos valor daremos a esse portento. Deus só é supervalorizado porque ninguém o vê, está completamente ausente. Se batesse todo dia à nossa porta acabaríamos por ficar irritados, mesmo em se tratando do CRIADOR DO UNIVERSO, com tudo que isso significa.

                        Como diz o povo, quem não sabe rezar xinga a Deus.

                        Quem não sabe pensar, quem não se dedica a aprofundar suas afirmações, acaba por ficar na superfície de tudo, apenas induzindo os outros a erros.

                        Vitória, terça-feira, 14 de maio de 2002.

                  

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