Thursday, October 31, 2013

Um Programa de Primeiro Mundo (da série Expresso 222..., Livro 1)


Um Programa de Primeiro Mundo
 
                        Imaginei no modelo que existem quatro mundos. Como eram 217 os países ainda há pouco, grosso modo cada grupo teria 55 deles.
                        Essa classificação em “mundos” começou com a briga das superpotências e seus “satélites”, os países de cada órbita em volta de seu Sol políticadministrativo, EUA de um lado e URSS de outro, o que terminou em 1991 com o fim desta última, sucedida em dimensão bem reduzida – em todos os sentidos – pela CEI, Comunidade dos Estados Independentes, que tem a Rússia como centro.
                        Daí, o “primeiro mundo” era constituído dos EUA, Europa, Japão e demais países “ocidentais” industrializados. O “segundo mundo” eram a URRS e satélites, Cuba, Vietnam, Coréia, China e todos os países presumidamente socialistas. Já “terceiro mundo” era tudo que não cabia aí, os então denominados “países subdesenvolvidos”, cuja nomenclatura “politicamente correta” agora é “países em desenvolvimento” (Brasil, América do Sul, México, “dragões” asiáticos), ou “novos países industrializados” (Coréia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Singapura – os “tigres” asiáticos).
                        E, com grande deboche, passaram a falar de “quarto mundo”, o resto do resto, os mais atrasados dentre a plebe, o rebotalho humano mesmo, em termos de riqueza quantitativa, tal como eles mediam e medem.
                        Bom, no modelo não há nada disso.
                        A classificação é transitória, porque as coisas mudam em ciclos. Quem está por cima hoje bem pode estar por baixo dentro de algumas décadas, como se viu com a Rússia. E no modelo não há conotações políticas separatistas. Os critérios são variados e objetivos/subjetivos. Lógico que os subjetivos dependem de outras avaliações mais complexas, de modo que falarei dos critérios objetivos: 1) riqueza, 2) área, 3) população, 4) renda percapita, 5) serviços de água e esgoto, e vários outros, que podemos acrescentar à vontade. De modo que não haverá uma lista única. Um país pode ser o primeiro numa lista, mas ser o décimo em outra. Digamos em IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU.
                        Decididamente existe um primeiro mundo, ou várias listagens em que algum país aparecerá como primeiro do primeiro mundo.
                        O Brasil ambiciona, faz bastante tempo, mas com mais certeza desde Collor em 1989, estar neste clube dos primeiros. Enquanto economia está em nono lugar, incluída a China, e em quarto, excluída a China e considerando a Europa dos 15 uma só.
                        Essa constatação, que para mim já é antiga, me fez perguntar O QUÊ, EXATAMENTE, é o primeiro mundo. A gente vê frações pelo TV, em revistas, ouve músicas e notícias nos rádios, lê livros, assiste filmes, ouve contar, consulta a Internet, lê jornais, mas não fica sabendo PARTICULARMENTE o que vem a ser o tal primeiro mundo, para, por exemplo, comparar com as condições brasileiras.
                        Como eles moram? Como trabalham? No quê acreditam? Muitas perguntas nos vêm à mente.
                        Fiquei pensando que a mídia pode destinar, no Brasil como em outros países ditos latinos, um percentual de sua capacidade em nos elucidar quanto àquilo que eles são e como operam, e a distância que estamos deles, para aprendermos a pleitear junto aos governos brasileiros (federação, estados, municípios/cidades). Em especial um, de TV, com o nome do título: programa PRIMEIRO MUNDO.
                        Se estamos a caminho do primeiro mundo, não é justo que cheguem lá só as elites brasileiras. Seria mais correto o povo ir também. Sem sabermos o quê é o primeiro mundo, como povo o que poderemos pedir às elites daqui? Sem base informativa não muda o controle político.
                        Vitória, sexta-feira, 19 de abril de 2002.

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