Sunday, October 27, 2013

Te Conheço de Algum Lugar (da série Se Precisar Eu Conto)


Te Conheço de Algum Lugar

 

ME DÊ NOME DE FLOR

Ele foi com a esposa e as crianças a churrasco, encontrou um amigo, ficaram conversando. Lá pelas tantas esse amigo perguntou pelo problema de memória dele.
- Ah, cara, tô quase curado.
- É mesmo, que notícia boa! O que você fez?
- Fui a um médico.
- Qual o nome dele?
- Me dê nome de flor.
- Sei lá, margarida, magnólia, jacinto, cravo.
- Mais.
- Crisântemo, orquídea, hortênsia, dália, rosa.
- Rosa, é isso! Rosa, ô Rosa, como é mesmo o nome daquele médico a que nós fomos?

Ele deparou com o sujeito certo dia de noite, estava pouco claro, tomou um susto, o cara ficou olhando-o. Se não é a firmeza de caráter dele tinha tido um troço.

Ficou olhando também, lá ele era de temer alguém?

O cara olhava igualmente firme, sem titubear. Pelo menos tinha tutano, o sacana, não arredava pé.

Ele se aproximou, o cabra se aproximou também e ficou olhando-o olho no olho, que potência, não se encolhia, o safado.

- Te conheço de algum lugar.

O sujeitinho não disse nada. Se ele não soubesse da força de vontade que possuía, teria chamado a mulher, que estava ali perto, bem com o genro e a filha.

Ele franziu os olhos, o fulaninho do mesmo modo. Filho da puta! Ordinário, pensa que vai me meter medo, se duvidar sento a porrada, seu corno, filho de uma égua.

Levantou o braço, o outro também levantou. Tremer ele não tremia. Ficou receoso, não era de agredir ninguém. E se o outro fosse adiante e batesse nele? Estava sozinho, bem que podia acontecer, até pedir socorro já seria tarde, já teria apanhado. Melhor parar de provocar, se ele saísse de fininho ninguém iria ficar sabendo e ele não contaria, de jeito nenhum, já na velhice? Se bem que o outro também era velho, parecido com alguém que ele conhecia.

Depois, se brigasse a família não iria gostar. Como eles se chamavam mesmo? Estavam ali na sala, que merda!

Saiu de fininho e quando olhou para trás o outro também estava indo embora. Ainda bem que fora prudente, o outro não queria briga, estava só se defendendo. A violência que a gente está disposta a precipitar ainda vai causar a ruína de muita gente.

Serra, segunda-feira, 16 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

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