A
Pedagogia do Oprimido
É claro que eu, como
todo brasileiro da minha geração e das esquerdas em geral, e até das direitas e
do centro, tenho uma admiração profunda por Paulo Freire e sua revolucionária
Pedagogia do Oprimido, que causou furor durante um certo tempo.
Dentro do Brasil a
ditadura estremeceu e expulsou-o, no que ele foi bem recebido em toda parte.
Fica em mim uma
insatisfação com a PO, para além do simples fato de ela não ter sido
efetivamente implantada no Brasil, face ao medo das elites do que a
conscientização poderia levar o povo a fazer. É o próprio nome, pedagogia DO
OPRIMIDO, assim como se Deus e Diabo fossem um par oposto/complementar e, no
pensamento de algumas diabólicas criaturas Deus precisasse sempre da presença
do Diabo para continuar Sua Obra, digamos assim.
Pedagogia DO OPRIMIDO
faz pensar que precisamos sempre de opressão e de oprimidos para termos onde
aplicar a pedagogia.
Portanto, considero que
seria preferível falar em PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO, assim como existe uma
Teologia da Libertação, pois de libertação sempre estaremos necessitados, agora
ou daqui a mil anos.
Como preparar a
pedagogia para que ela fale de libertação?
E como fazê-lo,
principalmente, sem assustar e armar as elites?
Libertação em relação a quê,
em primeiro lugar?
Do opressor sexual, do
opressor racial, do opressor de crianças e velhos, de índios. Da opressão de
pais e mães em relação aos filhos, e vice-versa, dos empresários perversos em
relação aos empregados, dos governos e governantes com os governados. Da
opressão ecológica dos humanos em relação aos bichos e plantas. Da opressão
cultural de uns pelos outros. E assim por diante.
Enfim, devemos mirar O
OPRESSOR, e não o oprimido.
A partir daí a
libertação será em relação ao opressor, que podemos ser inclusive nós mesmos.
Teremos de analisar-nos, o quanto somos opressores. O opressor não será só O
OUTRO, mas até nós mesmos – e não se tratará mais de JULGAR OS OUTROS, mas de
acabar com a opressão.
Então a política de
libertação, implícita e explícita, deve fazer-se segundo o interesse próprio do oprimido, e não pela visão do pedagogo.
Uma PEDAGOGIA INTERESSADA, digamos assim. Quais são os termos geo-históricos de
vida de cada um? Quem são as pessoas? Quais os seus objetivos? O que produzem?
Como se organizam? Que linhas os conduziram do passado ao presente? Então,
neste particular, alguma coisa diferencia os que vieram da África dos que
vieram da Europa, e a par da geo-história da Europa deveria ser ensinada a da
África, a das Américas pré-colombianas, a da Ásia, a do Oriente Médio, etc.
Está bem claro que a
Pedagogia do Oprimido ainda foi proposta nos moldes menos amplos da
intelectualidade brasileira dos 1960, desejosa de implantar os valores latinos,
a civilização de fundo greco-romano. E cristão, claro, sem espaço para os
cultos animistas, para o espiritismo, para as religiões orientais, para o
islamismo.
O Brasil não foi ainda
estudado nesse nível mais amplo de uma brasilidade que exponencialmente vai se
fazendo nas sombras, sem que as elites educacionais as estudem e exprimam nas
academias do ensino dito “superior”. Superior em que sentido? Não no de dar
consistência a essa brasil/idade, tempo de Brasil.
Não é dada vazão a esse
amplo sentimento de base de que as coisas, tal como despontam na mídia, não são
suficientes, nem são sequer interessantes, sendo no máximo suportáveis na falta
de algo melhor e mais empolgante.
Como os filmes
brasileiros do Cinema Novo, em que os cineastas ficavam discutindo uns com os
outros e estranhavam depois não haver público, enquanto o povo estava lotando
as salas de Mazzaropi e outros artistas populares.
Apesar de tudo de
maravilhoso que tem, como primeiro alto vôo brasileiro em filosofia da
educação, a Pedagogia do Oprimido deixa muito a desejar, e deve ser refeita nos
novos moldes.
Vitória, quarta-feira,
10 de abril de 2002.
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