Sunday, October 27, 2013

Norte e Sul (da série Expresso 222..., Livro 1)


Norte e Sul

 

                        No modelo que durante nove anos escrevi surgiram coisas estranhas, por exemplo, os pares de opostos/complementares. Um deles é norte e sul. Você pode encontrá-los nos antônimos, mas  listas de dipolos não são dicionários de antônimos, porque os pólos, tese e antítese, e o terceiro que é sua solução sintética, são motores autônomos, e não meros reflexos uns dos outros.

                        Deve-se entender, desde logo, que os pares não são mais que divergências provisórias, enquanto estamos tentando compreender o mundo, momento em que convergem na solução.

                        Só como ilustração, estudemos esse dipolo em particular.

                        Ora, acima de todo norte há um outro norte. Linhares fica ao norte de Vitória, mas São Mateus fica ao norte de Linhares, que fica ao sul de São Mateus. Então há um norte que é AO MESMO TEMPO norte e sul. Isso vai se repetir indefinidamente, para todos os pontos do planeta, menos dois, o inverso se dando ao sul.

                        Pois Cachoeiro fica ao sul de Vitória, mas Mimoso do Sul fica ao sul de Cachoeiro, que fica ao norte de Mimoso. Então há um sul que é SIMULTANEAMENTE sul e norte. No hemisfério norte como no hemisfério sul essas “confusões” vão se repetir. Todo norte é concomitantemente sul, e vice versa.

                        Entrementes, como eu disse, há dois pontos em que isso não acontece. São o Pólo Norte e o Pólo Sul. Não há norte acima do PN nem sul abaixo do PS. Contudo, ali se passam outras esquisitices. Veja que há os paralelos, as circunferências cada vez menores ou maiores, conforme vejamos, perpendiculares ao eixo da Terra, e os meridianos, as linhas imaginárias que vão de um Pólo ao outro.

                        Como herdamos dos sumerianos a notação de base 60, medimos os ângulos desse modo como 360º (graus), cada um com 60’ (minutos) e 60” (segundos), daí 360 x 60 x 60 = 1.296.000” de arco. Podemos dizer que, segundo esse modo de medir, o Pólo Norte está cercado de 1,3 milhão de direções do sul, que do outro lado se fundem num sul único. Na verdade são infinitos, e inversamente no Pólo Sul.

                        Então, de um único norte nascem infinitos sul, e vice versa.

                        Paradoxos aparecem quando definições erradas são dadas, de modo que poderíamos minorar as dificuldades dizendo que NORTE é um sentido, e não um lugar. Diríamos que Linhares FICA AO NORTE, quer dizer, no sentido do norte, e não NO NORTE, pois se trataria de um espaço, o que não pode ser.

                        Mas, veja, deve ser sentido, e não direção, porque de outro modo do único Pólo Norte emergiriam infinitas direções sul, e isso não pode estar certo. Pois se você estivesse num meridiano e eu em outro, qual seria a direção sul correta? A sua, ou a minha, ou a de qualquer outro?

                        Acontece que sentido é um vetor, uma flecha que começa e termina. Não existe vetor curvo. Além do quê a Terra está inclinada 23,5º em relação à eclíptica, o plano em que gira em torno do Sol. Esse vetor que indicasse o Norte verdadeiro não serviria para outros planetas, além de tangenciar continuamente a Terra.

                        Mais ainda, o Pólo Norte da Terra não pode ser o Norte verdadeiro, porque se tornaria absoluto, e o nosso planeta o centro do universo, sem falar nas relatividades culturais de uns chamarem o norte de sul e vice-versa.

                        A coisa melhoraria se usássemos aqueles círculos de que falei, os paralelos, que seriam então simultaneamente norte-e-sul, nortessul. Um novo modo de ver a que deveríamos nos acostumar. Você não precisaria pregar uma bandeirinha e dizer: aqui é norte, e convencer os outros disso. Todo lugar seria nortessul, e quando disséssemos norte, saberíamos que estaríamos usando a propriedade norte de nortessul, uma metade do todo. Pode parecer uma mudança pequena, mas tem enorme significado para a união das criaturas. E vimos que, para a Terra, há norte e sul relativos e há Norte e Sul absolutos, que por sua vez não servem fora da Terra.

                        Então nós vemos que uma coisa de que estávamos completamente seguros foge-nos às mãos, e pode render muitas discussões e debates acirrados. Foi isso que o modelo fez: mostrou-nos que os extremos polares são temporários, e devem ser usados com brandura por ambos os lados, porque é na fusão que encontraremos a solução.

                        E assim é para todos os pares de opostos complementares, por exemplo, homem e mulher, que na realidade constituem um ser único, o homulher, par fundamental da Criação, em seu próprio nível. Mas isso é outra história.

                        Vitória, sexta-feira, 11 de janeiro de 2002.

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