Os
Níveis do Xadrez
O tabuleiro do xadrez
tem 64 casas, 8 x 8.
São em geral chamadas de
BRANCAS e PRETAS, mas podem ser de quaisquer cores, aos pares, até cor-de-rosa
e brancas, digamos, para os veados. Ou verdes e azuis, o que for, verde
representando a vida e azul os ataques a ela, para os ecologistas.
As peças são de cores
contrárias, peças pretas em casas brancas e peças brancas em casas pretas, como
no Yin e Yang – os times jogam dialeticamente nas posições contrárias.
Há oito peões na fileira
da frente; e na fileira de trás duas torres nas extremidades, dois cavalos mais
para dentro simetricamente, dois bispos, o Rei e a Rainha. O Rei das Pretas
fica em casa branca, mas do outro lado, em oposição, o Rei das Brancas, ficando
em casa preta, se situa defronte do seu opositor, e vice-versa, de modo que as
rainhas também se opõem.
Evidentemente os peões
representam o trabalho braçal, e são empurrados à frente sem a mínima
consideração (seja dos patrícios escravistas, dos reis feudalistas, da burguesia
capitalista ou dos intelectuais socialista). Os cavalos simulam as forças
armadas de defesa e ataque. Os bispos – veja que são bispos, não sacerdotes –
significam o conhecimento, mediado pelas lideranças, e não, como
primitivamente, a Igreja. Mais recuadamente seriam os magos. Não são somente os
magos/artistas, nem os teólogos/religiosos, nem os filósofos/ideólogos, nem os
cientistas/técnicos e os matemáticos, mas todos, em conjunto, ou seja, a
pesquisa & desenvolvimento, a busca de entendimento.
A Rainha representa o
sexo feminino e o Rei o sexo masculino, porém, além disso, ambos representam a
estabilidade do Estado.
As torres expressam o
poder econômico/sociológico, a produção/organização.
Com isso está montado o
cenário para os conflitos todos, das guerras às disputas por
informação/controle-comunicação, ou info-controle ou IC. O objetivo todo é
“tomar o Rei”, quer dizer, incorporar o Estado estrangeiro à sua órbita de
influência.
Existem dois tipos de
perigo: o xeque,
em que o Rei-Estado é ameaçado, mas há chance de escapar, e o xeque-mate,
em que não há nenhuma oportunidade de evasão – segue-se que o Rei-Estado se
rende, é tombado simbolicamente.
Como curiosidade, diz-se
que quando o inventor apresentou o jogo ao Rajá (rei hindu, da Índia) há muitos
e muitos séculos, ele ficou tão satisfeito que prometeu uma recompensa. O
inventor, modestamente, pediu que fosse colocada na primeira casa um grão de
arroz, na segunda dois, na terceira quatro e assim por diante, de modo que o
rei, mais feliz ainda, mandou prontamente que ele fosse satisfeito. Isso é uma
progressão geométrica, na 64ª casa sendo necessários 9.223.372.036.854.775.808
grãos, ou seja, 9,2 quintilhões (se um grão pesar um grama, isso equivaleria a
9,2 milhões de toneladas), e a soma é o dobro disso menos um, quer dizer, 18,4
quintilhões. O inventor, apesar de matemático muito esperto, foi logo em
seguida morto pelo carrasco do Rajá, segundo contam.
Evidentemente o xadrez
tem encantado as gerações continuamente. Existem grandes mestres, mestres,
aficionados, meros jogadores sofríveis e espectadores. É tão difícil que a URSS
em sua emulação ou imitação do Ocidente, querendo estar acima e à frente,
investia horrores na descoberta dos talentos e em seu financiamento, de forma
que, enquanto existiu o pseudocomunismo a maioria dos grandes mestres veio de
lá. O primeiro grande mestre americano a vencer os soviéticos foi Bobby Fisher,
na década dos 1970, e o primeiro brasileiro a se tornar grande mestre foi
Mequinho, que depois entrou em colapso e se retirou da mídia.
Só recentemente, creio
que em 2001, um programa de computador foi capaz de derrotar um grande mestre.
E, veja só, o xadrez tem
todas essas dimensões.
De divertimento, de
co-elaborador do pensamento, de visão larga dos conflitos, de árvore das
decisões. E tem um outro sentido, mais alto, de ser a briga ou disputa de dois
infinitos, 8 x 8, Natureza e Deus, as duas faces de ELI, dois mundos ou modelos
em choque.
O xadrez deveria ser
jogado por todos. Eu mesmo sou um apaixonado que nunca o jogo, pois haveria
risco de empenho demais, e de eu me esquecer das tarefas. Em todo caso ele
deveria ser ensinado em todas as escolas, mormente nas mais elevadas, como graduação,
mestrado, doutorado e pós-doutorado, bem assim nas empresas, em particular as
grandes, onde decisões sobre investimentos devem ser tomadas, necessitando das
precauções que esse jogo espetacular poder proporcionar, vertendo-se o Estado
ou governo para Administração empresarial, e redesenhando as figuras: peões
como força de trabalho, bispos como conhecimento econômico
(agropecuário/extrativista, industrial, comercial, de serviços e bancário),
etc.
E pensando em cada
elemento por sua psicologia (figuras, objetivos, economia/produção,
sociologia/organização, e espaçotempo ou geo-história).
Ora, essas alterações
tornam o jogo ainda mais interessante.
Vitória, segunda-feira,
13 de maio de 2002.
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