Thursday, October 31, 2013

A Nébula de Formação (da série Expresso 222..., Livro 2)


A Nébula de Formação

 

                        Tenho uma enciclopédia (“muito antiga”, original de 1962/3 da Grã-Bretanha, versão em português Buenos Aires, Editorial Codex, 1963), portanto pelo original completando 40 anos em 2002, mas com bons nomes dos autores, denominada Tecnirama, Enciclopédia da Ciência e da Tecnologia. Foi uma das minhas paixões de adolescência, dada por um dos meus irmãos, José Anísio, nos anos finais daquela década.

                        No volume I, páginas 210 e ss., fala d’A Origem da Terra e diz que a primeira hipótese foi a de Laplace (físico, matemático e astrônomo francês, 1749 – 1827, 78 anos entre datas), que falava de uma nebulosa com anéis, julgada depois impossível. De fato, a proximidade de outros anéis, a presença do Sol em formação, a contigüidade da matéria do próprio anel, tudo isso contribuiria para desintegrá-lo. Mais certo é o contrário: devido à atração do planeta qualquer satélite que se aproxime além de um determinado limite é desintegrado, como em Saturno.

                        A seguir a Tecnirama acrescenta: “A hipótese de uma nuvem gasosa renasce em algumas teorias modernas. Sugere-se, por exemplo, que num princípio uma nuvem de gases e pó estelar envolvia o Sol. À medida que a nebulosa girava teriam se produzido concentrações, que, por sua vez, pela sua maior massa, se converteriam em centros de atração gravitatória até chegar a constituir grandes núcleos sólidos. Um desses ‘protoplanetas’ seria o antepassado da Terra”, no original com muitos acentos da língua de 40 anos atrás.

                        Primeiro, não havia nenhum “Sol” logo de entrada.

                        E, pensando com mais atenção, devemos ver os cometas de hojaqui como se fossem restos daquela formação primitiva. Eles SÃO, de fato. São hoje exatamente como eram há dez bilhões de anos, quando o Sol começou a formar-se, ou há 4,5 bilhões de anos, quando foi a vez da Terra. Estão situados muito longe, na Nuvem de Öort, ou mais longe ainda, no Cinturão de Kuiper. Os asteróides do Cinturão de Asteróides, entre Marte e Júpiter também são dessa época.

                        Os desenhos sobre as origens de nosso planeta geralmente mostram-no desde o começo como uma bola, redondinha. De modo algum poderia ser assim. A Terra foi, nos primórdios, como qualquer asteróide, por menor que seja, é hoje. E bem antes mesmo foi um cisco de pó, que se juntou a outro, e estes dois a outros. Asteróides juntaram-se também, ficando frouxamente ligados, e assim sucessivamente, de modo que o nosso mundo não estava na posição em que se encontra agora. Isso foi mudando continuamente, para a esquerda e a direita, não se sabe em que ordem.

                        Mais longe ainda a Nébula de Formação era uma nuvem resultante da explosão de uma nova ou supernova, que formam estrelas solitárias ou agrupadas em constelações. Essas estrelas primárias fabricam os elementos mais pesados, que vão ser usados como blocos de construção das estrelas secundárias e planetas.

                        O Sol de modo algum existia no início.

                        Houve uma agregação progressiva em vários dominantes, como descrito no modelo, até um dia surgir o protocentro ao qual foi se juntando cada vez mais matéria, até que ele se acendeu como o protossol, a agregação continuando sempre, até os nossos dias. Recentemente vimos o cometa SL fundir-se a Júpiter, tendo antes se partido em 21 pedaços.

                        A associação continua sempre. O que seria a queda de meteoritos? Do nosso ponto de vista é desastrosa, mas para a natureza zero tudo não passa de somas e subtrações.

                        Dois aqui, outro ali, e assim por diante, até que um dia já havia uma massa disforme, toda cheia de pontas. Com a pressão crescente, a gravidade fez seu trabalho de arredondamento (e aqui teríamos, pela primeira vez, um protoplaneta, onde antes só havia um conjunto de meteoritos), e só muito mais tarde a Terra se tornou uma bola giratória, mais ou menos reconhecível a partir da imagem que temos em nossos dias.

                        Na página 211 o autor (desconhecido) acrescenta: “Se uma estrela passasse muito próximo do Sol poderia provocar nele uma enorme maré que adotaria a forma de um charuto e depois se fragmentaria. Assim seria explicada a variação gradual do tamanho dos planetas (do menor ao maior, de Mercúrio a Júpiter, e depois de maior a menor) e o fato de que os mais distantes do Sol foram os menos densos. Mas há uma dificuldade matematicamente insolúvel: a enorme distância de alguns planetas ao Sol”.

                        Por quê imaginar sempre hipóteses complicadas?

                        A mais simples prevalece. A Natureza não dá essas voltas dificílimas, sendo a menor distância entre dois pontos uma reta, ou às vezes a curva mais simples, que é uma reta diferente.

                        Por uma idéia desse tipo, a formação de planetas seria muito rara, dependendo de duas estrelas passarem próxima uma da outra. E olhe que a distância média na Via Láctea deve girar em torno dos oito anos-luz.

                        Mais adequado é pensar que o mesmo que aconteceu com o Sol aconteceu com todos, em toda parte, em todas as galáxias, e que existem, como já falei, vários sistemas no Sistema (em maiúsculas conjunto ou família ou grupo de sistemas) solar. O Sistema do Sol com os terrestróides, o Sistema de Júpiter, o Sistema de Saturno, e assim por diante. Agregações, agregações, agregações contínuas e repetidas até a náusea.

                        Por todo o universo zilhões de sistemas, todos diferentes na forma, todos iguais no conceito.

                        Ficar inventando isso e aquilo, esta e aquela particularidade não ajuda em nada. Em alguns casos, claro, essas passagens de estrelas vão ter acontecido, mas não será a regra, porque a regra é a Curva de Gauss para a estatística dos grandes números: pouquíssimos à esquerda, muitíssimos no centro, pouquíssimos na direita.

                        Quando a Tecnirama diz que “é muito provável que os jovens protoplanetas, qualquer que seja sua origem, chegaram ao seu tamanho atual ao incorporar material disperso, por meio de sua atração gravitatória, enquanto giravam ao redor do Sol”, ela mostra o Sol com vários planetas grandes em volta, e uma imensidade de planetinhas se juntando a eles.

                        Como vimos, isso é doideira.

                        A idéia de que há qualquer tipo de privilégio para a quase totalidade dos objetos é primitiva, e depois de Gauss é antimatemática.

                        Devemos pensar na simplicidade como o guia correto.

                        Um modelo simples e geral formando um cenário complexo, tanto aqui como em toda parte. Variações em relação ao centro só devem ocorrer 2,5 % à esquerda e 2,5 % à direita, eu estimo. E adotar as sugestões do modelo que escrevi para a modelação nos supercomputadores de uma nova cosmogonia dos sistemas estelares. Esse é o caminho.

                        Visões extremamente complicadas só distorcem nossas mentes e emperram o progresso das ciências.

                        Devemos nos ater ao que houver de mais singelo, até ao simplório, porque é a mente que torna tudo complexo. Do outro lado a Natureza não tem esses recursos. Embora ela dê saltos nas catástrofes, levando à qualidade nova, como diz a dialética e o modelo repetiu de outro modo, no geral ela acumula lentamente, como diziam os uniformistas. Ou, de outro modo, é Stephen Jay Gould que está certo ao falar do equilíbrio pontuado, quer dizer, evolução com saltos.

                        Vitória, quarta-feira, 15 de maio de 2002.

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