A
Nébula de Formação
Tenho
uma enciclopédia (“muito antiga”, original de 1962/3 da Grã-Bretanha, versão em
português Buenos Aires, Editorial Codex, 1963), portanto pelo original
completando 40 anos em 2002, mas com bons nomes dos autores, denominada Tecnirama,
Enciclopédia da Ciência e da Tecnologia. Foi uma das minhas paixões de
adolescência, dada por um dos meus irmãos, José Anísio, nos anos finais daquela
década.
No
volume I, páginas 210 e ss., fala d’A Origem da Terra e diz que a primeira
hipótese foi a de Laplace (físico, matemático e astrônomo francês, 1749 – 1827,
78 anos entre datas), que falava de uma nebulosa com anéis, julgada depois
impossível. De fato, a proximidade de outros anéis, a presença do Sol em
formação, a contigüidade da matéria do próprio anel, tudo isso contribuiria
para desintegrá-lo. Mais certo é o contrário: devido à atração do planeta
qualquer satélite que se aproxime além de um determinado limite é desintegrado,
como em Saturno.
A
seguir a Tecnirama acrescenta: “A hipótese de uma nuvem gasosa renasce em
algumas teorias modernas. Sugere-se, por exemplo, que num princípio uma nuvem
de gases e pó estelar envolvia o Sol. À medida que a nebulosa girava teriam se
produzido concentrações, que, por sua vez, pela sua maior massa, se
converteriam em centros de atração gravitatória até chegar a constituir grandes
núcleos sólidos. Um desses ‘protoplanetas’ seria o antepassado da Terra”, no
original com muitos acentos da língua de 40 anos atrás.
Primeiro,
não havia nenhum “Sol” logo de entrada.
E,
pensando com mais atenção, devemos ver os cometas de hojaqui como se fossem
restos daquela formação primitiva. Eles SÃO, de fato. São hoje exatamente como eram
há dez bilhões de anos, quando o Sol começou a formar-se, ou há 4,5 bilhões de
anos, quando foi a vez da Terra. Estão situados muito longe, na Nuvem de Öort,
ou mais longe ainda, no Cinturão de Kuiper. Os asteróides do Cinturão de
Asteróides, entre Marte e Júpiter também são dessa época.
Os
desenhos sobre as origens de nosso planeta geralmente mostram-no desde o começo
como uma bola, redondinha. De modo algum poderia ser assim. A Terra foi, nos
primórdios, como qualquer asteróide, por menor que seja, é hoje. E bem antes
mesmo foi um cisco de pó, que se juntou a outro, e estes dois a outros.
Asteróides juntaram-se também, ficando frouxamente ligados, e assim
sucessivamente, de modo que o nosso mundo não estava na posição em que se
encontra agora. Isso foi mudando continuamente, para a esquerda e a direita,
não se sabe em que ordem.
Mais
longe ainda a Nébula de Formação
era uma nuvem resultante da explosão de uma nova ou supernova, que formam
estrelas solitárias ou agrupadas em constelações. Essas estrelas primárias
fabricam os elementos mais pesados, que vão ser usados como blocos de
construção das estrelas secundárias e planetas.
O
Sol de modo algum existia no início.
Houve
uma agregação progressiva em vários dominantes, como descrito no modelo, até um
dia surgir o protocentro ao qual foi se juntando cada vez mais matéria, até que
ele se acendeu como o protossol, a agregação continuando sempre, até os nossos
dias. Recentemente vimos o cometa SL fundir-se a Júpiter, tendo antes se
partido em 21 pedaços.
A
associação continua sempre. O que seria a queda de meteoritos? Do nosso ponto
de vista é desastrosa, mas para a natureza zero tudo não passa de somas e
subtrações.
Dois
aqui, outro ali, e assim por diante, até que um dia já havia uma massa
disforme, toda cheia de pontas. Com a pressão crescente, a gravidade fez seu
trabalho de arredondamento (e aqui teríamos, pela primeira vez, um
protoplaneta, onde antes só havia um conjunto de meteoritos), e só muito mais
tarde a Terra se tornou uma bola giratória, mais ou menos reconhecível a partir
da imagem que temos em nossos dias.
Na
página 211 o autor (desconhecido) acrescenta: “Se uma estrela passasse muito
próximo do Sol poderia provocar nele uma enorme maré que adotaria a forma de um
charuto e depois se fragmentaria. Assim seria explicada a variação gradual do
tamanho dos planetas (do menor ao maior, de Mercúrio a Júpiter, e depois de
maior a menor) e o fato de que os mais distantes do Sol foram os menos densos.
Mas há uma dificuldade matematicamente insolúvel: a enorme distância de alguns
planetas ao Sol”.
Por
quê imaginar sempre hipóteses complicadas?
A
mais simples prevalece. A Natureza não dá essas voltas dificílimas, sendo a
menor distância entre dois pontos uma reta, ou às vezes a curva mais simples,
que é uma reta diferente.
Por
uma idéia desse tipo, a formação de planetas seria muito rara, dependendo de
duas estrelas passarem próxima uma da outra. E olhe que a distância média na
Via Láctea deve girar em torno dos oito anos-luz.
Mais
adequado é pensar que o mesmo que aconteceu com o Sol aconteceu com todos, em
toda parte, em todas as galáxias, e que existem, como já falei, vários sistemas
no Sistema (em maiúsculas conjunto ou família ou grupo de sistemas) solar. O
Sistema do Sol com os terrestróides, o Sistema de Júpiter, o Sistema de
Saturno, e assim por diante. Agregações, agregações, agregações contínuas e
repetidas até a náusea.
Por
todo o universo zilhões de sistemas, todos diferentes na forma, todos iguais no
conceito.
Ficar
inventando isso e aquilo, esta e aquela particularidade não ajuda em nada. Em
alguns casos, claro, essas passagens de estrelas vão ter acontecido, mas não
será a regra, porque a regra é a Curva de Gauss para a estatística dos grandes
números: pouquíssimos à esquerda, muitíssimos no centro, pouquíssimos na
direita.
Quando
a Tecnirama diz que “é muito provável que os jovens protoplanetas, qualquer que
seja sua origem, chegaram ao seu tamanho atual ao incorporar material disperso,
por meio de sua atração gravitatória, enquanto giravam ao redor do Sol”, ela
mostra o Sol com vários planetas grandes em volta, e uma imensidade de
planetinhas se juntando a eles.
Como
vimos, isso é doideira.
A
idéia de que há qualquer tipo de privilégio para a quase totalidade dos objetos
é primitiva, e depois de Gauss é antimatemática.
Devemos
pensar na simplicidade como o guia correto.
Um
modelo simples e geral formando um cenário complexo, tanto aqui como em toda
parte. Variações em relação ao centro só devem ocorrer 2,5 % à esquerda e 2,5 %
à direita, eu estimo. E adotar as sugestões do modelo que escrevi para a
modelação nos supercomputadores de uma nova cosmogonia dos sistemas estelares.
Esse é o caminho.
Visões
extremamente complicadas só distorcem nossas mentes e emperram o progresso das
ciências.
Devemos
nos ater ao que houver de mais singelo, até ao simplório, porque é a mente que
torna tudo complexo. Do outro lado a Natureza não tem esses recursos. Embora
ela dê saltos nas catástrofes, levando à qualidade nova, como diz a dialética e
o modelo repetiu de outro modo, no geral ela acumula lentamente, como diziam os
uniformistas. Ou, de outro modo, é Stephen Jay Gould que está certo ao falar do
equilíbrio pontuado, quer dizer, evolução com saltos.
Vitória,
quarta-feira, 15 de maio de 2002.
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