Sumo Pontífice
Ele “tinha a mão certa”, como diz o povo, para
plantar e para fazer sucos. A vizinhança, os concorrentes, para chamar atenção aos
produtos deles diziam “suco natural da própria fruta (autêntico)”,
superafirmando para convencer.
O Jorge, não.
Como era negro e alto, com mãos grandes, e
fora abençoado por Deus com esse verdadeiro dom não precisava apelar, o povo ia
mesmo, a concorrência se arrebentava direitinho.
Nego Jorge não tava nem aí, não dava uma de
orgulhoso nem nada, estava na dele, era supremo no que fazia, passou a ser
conhecido como o Papa dos Sucos, era craque no que fazia, bota competência
nisso. Quando precisavam, os bufês o convidavam para um extra, sempre
bem-vindo, pois ele e a esposa estavam construindo casa para “sair do aluguel”.
Jorge comprou livros sobre sucos, se
aprimorou, fez cursos, o dono o convidou para sociedade, contrataram gente para
facção, para preparar em casa segundo as receitas, embalar e entregar para
venda; ampliaram a firma, colocaram franqueamento, ele começou a circular entre
a gente rica e educada, brancos e negros, amarelos e vermelhos, todo tipo de
gente rica.
Alguém o chamou de “pontífice”, ele foi
saber o que era, era “construtor de pontes” entre as pessoas, porque muita
gente frequentava as lojas só para beber sucos que cuidavam da saúde, e
conversar; como fazia sucos ou sumos, algum brincalhão o chamou de Sumo
Pontífice.
PREPARAÇÃO DE SUCOS
Boa procedência, vigilância sanitária.
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Elegante.
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Conduzindo sua saúde com gosto.
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Cuidado na preparação, boas máquinas.
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As pessoas implicavam: onde já se viu um
papa Negro?
Jorge não se dava por achado.
- Por quê não? A Igreja é universal, há
cardeais negros, uma hora um vai ser eleito, o presidente da nação mais
poderosa do mundo não é negro? Mestiço, mas afrodescendente.
E essa é a história do primeiro papa Negro.
Depois teve aquele outro, mas tou falando do primeiro, Nego Jorge, que é meu
avô.
Serra, domingo, 25 de março de 2012.
José Augusto Gava.
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