Thursday, October 31, 2013

A Queda do Ocidente (da série Expresso 222., Livro 2)


A Queda do Ocidente

 

                        Oswald Spengler (filósofo e historiador alemão, 1880-1936) escreveu entre 1918 e 1922 um livro, A Decadência do Ocidente.

                        Foi uma coisa tão espantosa a ponto de até hoje estar sendo continuamente mencionado, e soou como uma traição. Quem é mais amigo: quem fala ou quem cala? Penso que é quem expõe logo o assunto, dando-nos tempo de corrigir nossos procedimentos supostamente errados - ou não, se os julgamos certos.

                        Creio que esse livro chocante fez muito pelo Ocidente, assim como o aparecimento da Rússia pseudocomunista em 1917 e da Alemanha nazista (nacional-socialista), da Itália fascista e do Japão imperialista. Não fossem esses países o Ocidente teria caído muito mais rapidamente. No caso da Rússia, o tratamento muito melhor dado inicialmente aos trabalhadores levou os países do Oeste a reverem suas posições quanto aos operários, abrindo a produçãorganização ou sócioeconomia consideravelmente mais que antes. No caso dos fascistas da Segunda Guerra Mundial foi o perigo de um outro modelo políticadministrativo ou governempresarial, focado na direita totalitária e elitista, e não na esquerda democrática e popular, o que fatalmente empurrou o mundo aliado vencedor para maior democratização e tolerância cristã.

                        Porque, veja só, a Lua também está caindo em direção e sentido da Terra, como nos mostra a Lei da Gravitação de Newton, e depois a Lei da Gravitação de Einstein, esta do espaçotempo geométrico. E assim também a Terra em direção e sentido do Sol. Caem continuamente todos os planetas e satélites, naturais ou artificiais.

                        Acontece que o momento angular ou velocidade centrífuga (pseudovelocidade de fuga do centro) iguala-se à velocidade centrípeta (pseudovelocidade de aproximação do centro) de queda gravitacional ou momento linear, no conjunto a velocidade de aproximação ou soma permanecendo zero ou muito próximo disso. Eles estão caindo e permanecendo no mesmo lugar relativo há bilhões de anos.

                        Veja só que Roma era uma cidade-estado, depois se seguindo a constituição das províncias-estado, mais adiante das nações-estado e finalmente do mundo-estado, a globalização de agoraqui. Não há nada depois do mundo, fora a expansão extraplanetária, que pertence a uma seqüência distinta.

                        Se as pessoas tivessem se dedicado mais à compreensão e uso da dialética teriam visto imediatamente que é um ciclo, cada vez mais amplo, dos municípios/cidades até o mundo. Há queda, mas há também renovação. Há aniquilamento e reconstrução, retração e ampliação, destruição e soerguimento. É um pulsar, agora em expansão.

                        Tanto medo Spengler meteu nas pessoas e nos ambientes, mas isso só porque estes eram frágeis, imaginando-se fortes. Tomaram então um choque, o balanceio do despertar. Investigar o quão importante foi esse autor, por conta desse único livro, já renderia muitas teses de mestrado e doutorado.

                        Ele mexeu com os brios ocidentais.

                        Instaurou e instalou a dúvida permanente, e fez pensar.

                        Desalojou-nos de nossa comodidade, de nossa tranqüilidade tacanha, de sub-desenvolvidos em racionalização, no processo de pensamento. Fez crescer o Ocidente, dilatou-nos como ninguém, fora Cristo e alguns outros, haviam feito antes. Aliás, faz todo sentido perguntar quais indivíduos tiveram mais impacto nesse sentido de estremecer fundamentos da coletividade mundial em geral e particularmente ocidental.

                        Um sujeitinho malicioso e infantil, Michael H. Hart, desejando causar polêmica para vender livros, apresentou no seu livro As 100 Maiores Personalidades da História, 5ª. Edição, Rio de Janeiro, Difel, 2002, uma classificação em que coloca Maomé e Isaac Newton à frente de Jesus. Ele não deveria interferir no que não entende, que compreende mal e expõe mais imperfeitamente ainda.

                        Faltaram-lhe critérios.

                        E, é lógico, não incluiu Spengler.

                        Na Enciclopédia e Dicionário (ilustrado) Koogan/Houaiss, Rio de Janeiro, Delta, 1993, Spengler não recebe mais que quatro linhas da página de três colunas.

                        Mesmo tendo errado, por não usar precavidamente a dialética, lógica das relações, ele foi absolutamente eletrizante. Balançou feio o Ocidente orgulhoso que estava caindo no vago e no etéreo precocemente, com isso sustando a queda por muitos séculos, talvez. Outros eventos de peso ajudaram fortemente – não só os negativos, como a Rússia e os fascistas, como também os positivos (informática/cibernética, bioquímica, telefonia, uma lista grande).

                        Apesar disso, a presença de Spengler segue como um lume.

                        Muito pouco valorizado, é verdade, mas uma luz poderosa, a ser constantemente reavaliada em seus efeitos tangíveis e sutis.

                        Vitória, terça-feira, 07 de maio de 2002.

                  

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