É
Boa a Situação do ES?
Por muito tempo os
brasileiros quase em geral nos tinham como um caso perdido, um estado
permanentemente subdesenvolvido, que seria melhor manter como uma espécie de
reserva de “natureza intocada” próxima, apesar de já então a Mata Atlântica
local ter sido reduzida de 95 % em 1500 para 30 % ou menos em 1960, sendo
agora, em 2002, de 5 % ou menos da área do estado.
No mínimo confundiam
Vitória com Vitória da Conquista, ou até Vitória de Santo Antão, e diziam que o
motivo da criação do estado era colocar mais distância entre a Bahia e o Rio de
Janeiro.
Então, diante de tanta
negatividade, comecei a analisar seriamente nossa posição.
1º) – por ter sido
bloqueado até 1975, quando foi concluída a ponte que na BR 101 em Barra Seca liga
Linhares a São Mateus, logo após a Reserva de Sooretama, portanto o Sudeste ao
Nordeste, por 475 anos o estado foi impedido de se desenvolver como tampão em
relação às preciosas Minas Gerais.
O
que há de bom nisso é que quase tudo que existe no ES é muito recente, têm
menos de 27 anos. Por exemplo, em 1971, quando vim estudar, a população da
“Grande Vitória” era de menos de 300 mil habitantes, enquanto agora passa de
1.300 mil, um milhão a mais. Casas, prédios, tecnologia, tudo tem menos de 27
anos, o que significa que nossas coisas vêm de tecnologias mais recentes,
inclusive eletricidade, telefônica, portuária, etc.
2º) – podemos tomar os
45 mil km2 de área como um retângulo de 100 por 450 km, de tal modo que o
estado é dimensionalmente dos mais governáveis do Brasil, junto com Rio de
Janeiro, Alagoas e Sergipe. É fácil ir de qualquer lugar a qualquer lugar,
enquanto na Bahia pode haver distâncias de 1.300 km.
3º) – os bancos de dados
da Enciclopédia Abril dão a participação do PIB capixaba no PIB brasileiro como
sendo de apenas 1,5 %, o que está abaixo do índice de 1970. Contudo, em 1992
ele já era, pelos dados do ex-secretário da Fazenda Sérgio Vergueiro, 2,36 %, o
que nos colocava acima de 120 nações. Calculando em 1985 a partir de consumo de
eletricidade e recolhimento de ICMS vi que ele estava, já naquela época,
disputando o oitavo lugar na federação.
4º) – num raio de 500 km
temos duas grandes capitais, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. E à nossa volta a
irreverência dos cariocas, o molejo dos baianos, a operosidade dos mineiros,
três grandes estados, com os quais podemos aprender a criar uma mistura. Num
raio de 1.000 km, temos São Paulo, Salvador, Brasília e Goiânia.
5º) – temos 500 km de
praias, com as montanhas situadas a 50 km delas, de modo que num mesmo dia
podemos de manhã tomar banho de sol e de tarde curtir um friozinho e tomar
vinho.
6º) – há muitos portos
ligando-nos ao mundo, tornando-nos cosmopolitas e abertos, e grandes empresas
que podem ser guias de desenvolvimento, quando não parceiras ativas dos
governos.
7º) – há ainda 440 km2
em Sooretama e na Reserva da CVRD de Mata Atlântica intocada, um ecopatrimônio
extraordinariamente valioso para a indústria farmacêutica nacional e
internacional.
8º) – o povo é bom,
ordeiro. E há uma região metropolitana bastante grande para o que é
necessariamente grande, cidades médias condutoras do desenvolvimento interior e
bucólicas cidadezinhas e distritos à volta.
Certamente você pode
descobrir muitos outros motivos.
De modo que comecei a
pensar que, inversamente do que se dizia, a posição do Espírito Santo é muito
boa, senão ótima ou excelente, perto de outras. É claro que há muito a fazer,
os índices de pobres e miséria são alarmantes, falta esgotamento sanitário, o
abastecimento de água é precário em várias regiões, a eletrificação não se
completou, e a telefonia não chegou aos índices mais avançados.
Mas, se há um lugar e um
tempo em que eu gostaria de ter nascido, foi nesse espaçotempo capixaba, que
pesem os desgostos com os governantes e com as lideranças políticas em geral, a
estupidez das elites, e várias outras deficiências.
Está bom, porém pode
melhorar muito.
Entretanto, não somos,
nem de longe, aquilo que diziam de nós.
Muito pelo contrário, o
ES está prestes a explodir numa enorme onda de operosidade, construção,
desenvolvimento real sustentável, alta tecnociência. E nem é pedir muito, é o
nosso destino. É fatal.
Vitória, quinta-feira,
11 de abril de 2002.
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