A Questão da Água
Marc de Villiers,
sul-africano bôer agora vivendo na Austrália é autor do livro Água (como o uso deste precioso recurso
natural poderá acarretar a mais séria crise do século XXI), Rio de Janeiro,
Ediouro, 2002 (original de 1999 – o autor trabalhou como editor no Toronto
Life, no Canadá, daí eu presumir que a edição original seja canadense).
O livro é formidável,
mas poderia ser melhor, com a colocação de quadros, gráficos e outras
informações tecnocientíficas válidas e indicativas.
É uma descrição
jornalística engajada ecologicamente sobre a água e a sua privação crescente
nos países.
Quando éramos em menor
quantidade (agora, saudosos tempos, aqueles) e a pressão de consumo era menor,
não só quantitativa/absoluta quanto qualitativa/relativamente, a água era um
tanto mais abundante. Depois, com a pressão socioeconômica ou
produtivorganizativa, e o crescimento populacional desenfreado, o processo de
desertificação, a salinização das lavouras (depósitos de sal por excesso de
irrigação da terra/solo), ocupação por construções e para lazer, desmatamento
irresponsável, construção de represas (que, se retém a água, também toma espaço
de assentamento, deslocando as pessoas para outras terras), em resumo toda a loucura demoníaca
antiambiental, a água começou a escassear.
O resultado palpável foi
que surgiram CONFLITOS DA ÁGUA, o que nunca se tinha visto em intensidade
emocional desse porte. Guerras locais pela posse das nascentes ou do trânsito
dos rios houve sempre, desde o mais remoto passado humano, desde as primeiras
povoações. É a letalidade e virulência dos conflitos que assusta. As pessoas
estão se dando conta de que a água é, além de fundamental, recurso
não-renovável (nas minas fósseis – lençóis freáticos e aqüíferos) e renovável
(rios) muitíssimo precioso.
O fato é que 97 % da
água estão nos oceanos.
Dos três porcento que
sobram uma parte está congelada e o que resta vem sendo mal-políticadministrado
pelos governempresas. Pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e
ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo) vinham usando como se
não fosse acabar, como se Deus viesse pessoalmente repor os estoques e resolver
os problemas que nós criamos.
Subitamente as pessoas e
os ambientes acordaram, pois o que era sonho virou pesadelo.
Maurice Strong, creio
que um dos fundadores do Clube de Roma está comprando minas d’água em lugares
de escassez relativa ou absoluta.
Não é só a água.
Deve-se frisar a
distinção entre recurso, que é a riqueza por fazer, em potencial, e a riqueza,
que é o recurso realizado, feito.
Portanto é a FALTA DE
ÁGUA que se transforma em riqueza.
O excesso de água na
Amazônia é apenas um recurso, que ninguém compraria, como neve na Antártica ou
no Ártico.
Devem-se encontrar modos
de SERVIR ÁGUA onde ela é escassa e haja poder do compra. Vários índices devem
ser visualizados: 1) escassez ou falta, 2) poder de compra, 3) tecnociência de
extração e transporte, 4) rendimento dos programáquinas (hardware e software,
ou máquina e programa), 5) forçapoder dos governempresas, e por aí afora.
São complexas as
condições de exploração, porque não é uma coisa qualquer, situada nos limites
da irrelevância. É um elemento central da Bandeira Elementar (ar, água,
terra/solo e fogo/energia, e no centro a Vida geral – com a Vida-racional
situada no centro do centro). Como afeta a todos, não há aí só a racionalidade,
a psicologia, o que é propriamente humano – as pessoas voltam ao irracional, ao
sentimental, à violência mais pura e indistinta.
Logo, embora seja uma
das fontes definitivas de riqueza, a Água geral é um ponto delicado, dos mais
sensíveis, que deve ser tratado com extremo cuidado desde o princípio, logo na
fundação das firmas, exigindo desde o começo políticaministrações da
boa-vizinhança, proximidade com a Mídia mundial, departamento de ecoproteção e
muitas defesas eficientes, além de investimentos pesados em cultureducação do
povelite/nação.
A exploração favorável e interessada desses
elementos centrais da Bandeira Elementar deve ser assaz cuidadosa, de modo que
as firmas não sejam pegas na contramão das vontades humanas, nem muito menos se
eximam de investigar a contrariedade delas pelo sobre-uso dos recursos, mesmo
se isso levar ao enfrentamento da fúria temporária dos cegos, dos relapsos, dos
mal-intencionados, dos criminosos.
Vitória, sábado, 4 de
maio de 2002.
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