Wednesday, October 09, 2013

Atroz-Cidades (da série Vale 100 Contos)

Atroz-Cidades

Estimei existir no mundo de quase 200 nações uns 4,0 mil estados/províncias e umas 200 a 300 mil cidades, a contar pelos índices brasileiros (5,5 mil cidades para 8,5 milhões de km2, nos 170 do mundo 1/20; embora as cidades brasileiras sejam maiores) – alguém deveria fazer as contas.
Esse sujeitinho ordinário achou de fazer uma lista de baixo para cima, mas não quanto ao tamanho – quanto à qualidade de vida e às atrocidades (barbaridades, crueldades, brutalidades, ferocidades, selvagerias, truculências, tudo isso dos dicionários) cometidas ali. Havia juiz e tudo, 12, simbolismo, essas idiotices.
Atroz-cidades, cidades atrozes.
Pode isso?
É um crápula, mesmo. E não era sem intenção, não era por bondade, era interesseiro, ele chantageava para não colocar, não incluir o nome na lista maldita, pois saía na Internet, até fizeram uma reportagem numa revista aí, tivemos de cotizar para comprar os números.
Desumanas, inumanas.
A minha cidade tava no meio.
Não é que não aconteça alguma coisa, pouca, mais ou menos pouca, vou dizer. Não digo “minha” porque seja, mesmo, é de mais gente, meia dúzia, sei lá, 15 famílias, talvez, nós chegamos aqui antes e compramos as terras baratinho, loteamos, ganhamos rios de dinheiro, nos tornamos donos do pedaço, filhos casando com filhas e assim por diante, as heranças misturadas.
Bandido?
Dá, sim, um ou outro. Fica pouco tempo, em pouco tempo eles vão embora. Há plantações aqui por perto, de eucalipto e outras, seringueiras, eles podiam trabalhar pelo lado de cima delas. São teimosos. Por pouco tempo, claro, tem uns guardas aqui amigos nossos que os levam para passear.
Bem, esse filho da puta colocou a gente na tal lista, os mil mais (ou menos), os mil mais atrozes, teve gente que pagou pra sair, nós nos negamos. Mandamos umas mensagens para eles, ele e os amiguinhos dele, mas não surtiu efeito, era nos EUA, até pagamos para alguém traduzir, ficou por isso mesmo, eles se acham protegidos, não sei como combinar com as outras cidades, se a gente cotizar...
Atrozes, né?
Tá bom, espera que nós tamos indo, seus sacanas.
Mesmo com o planeta assim conectado, fica difícil combinar com todo mundo, existem tais cidades em toda parte, em todas as línguas. Bem, algo de bom resultou, porque a fama espalhou, os bandidos estão com medo de vir para cá.
As piores cidades do mundo.
Até que há algum charme, estar entre as melhores (piores). Sem dúvida. Até conversamos, as famílias, talvez a gente deixe assim mesmo. Contudo, olhando por esse lado, nós nem estamos no primeiro lugar...
Serra, segunda-feira, 22 de julho de 2013.
José Augusto Gava.

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