A Parte do Rei Leão
Existia desde há
muito tempo “a parte do leão”, quer dizer, do mandatário da Floresta, onde ele
era sabidamente “o rei da bicharada”. O elefante era o maior, mas não era o
rei; embora pudesse esmagá-lo com uma pata, não fazia isso, era manso. Existia
também o javali com seus enormes dentes, de meter medo. O rinoceronte, com sua
casca dura, era policial apenas; como não sentia dor não sabia que os outros
sentiam. Havia o hipopótamo, que vivia no Rio e pouco dava as caras na
terrinha. O jacaré, o moita só com os olhinhos de fora, era olheiro de um time
da capital. A coruja, a cientista do lugar, olhava tudo. Os passarinhos viviam
flanando. A maritaca vivia maritaqueando e o tucano tinha participado da
privataria tucana, estando muito bem de vida com os burros do dinheiro levando
o dinheiro para passear nos paraísos (fiscais). O papagaio entregava todo
mundo, era dedo duro do rinoceronte.
O Leão fora
trabalhar para o Imposto de Renda brasileiro, na Receita Federal do Ministério
da Fazenda, onde ficava a floresta como reserva de caça de patos. Era
funcionário público há muitos e muitos anos, três décadas ou mais, antes sempre
aparecia nos retratos, mas ultimamente (em razão de sua aparente ferocidade
real) pouco era mostrado.
Ele exigia essa “parte
do leão”. Que, como era rei, passou a ser “a parte do rei leão”. Mensalmente,
oferecendo proteção a que cumprisse a obrigação, através do “carnê do leão” ele
pegava um tanto de cada um, muito mais percentualmente dos pobres, era a “lei
da selva”.
Anualmente havia
uma “declaração de ajuste”: se ele tivesse engolido demais durante o decorrer
do ano e você provasse que era desvalido conseguiria que cuspisse uma parte
pequena.
Não mordia os
animais maiores, só os pequenos.
Os grandes, tipo
elefante, hipopótamo, jacaré, rinoceronte e Roberto Marinho não eram pegos, só
os miudinhos, na fonte, nem deixava levar para depois trazer.
QUEM É REI NUNCA PERDE A MONSTRUOSIDADE
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No jogo dos grandes
havia quatro valetes: advogado, contador, administrador e economista, que os
ajudavam a só-negar. Eles NUNCA admitiam a verdade, mentiam sempre e de tal
forma e com tanto arrojo e audácia que as pessoas acreditavam, “tudo dentro da
lei”.
O rei ia levando, e
levava muito.
Ninguém pedia
contas, ninguém investigava a contabilidade do rei, ninguém perguntava se ele
pegava muito.
Assim eram as
coisas em Floresta Feliz.
Ah, esqueci dos
macacos, que faziam muita macaquice na Rede Lobo e colegiadas para divertir
aquela gente.
Serra, sexta-feira,
20 de abril de 2012.
José Augusto Gava.
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