Ação Entre Amigos IV
GATA – amor, hoje você foi demais.
LEÃO – não acredito que vocês foram transar antes de vir pra cá!
ELEFANTE (enorme de grande, com jeito de poucos amigos, a máscara gigantesca ocultava a face, põe as mãos nas cinturas) – não pode, chefinho?
LEÃO – pode, Elefante, só que a gente teve de ficar esperando vocês, isso já atrasou, se soubesse que era isso tinha deixado vocês pra trás.
ELEFANTE – tinha?
LEÃO (dando conta da gafe perigosa) – claro que não! Tanto que esperamos, né?
CABRITO – Leão, você pagou o vigia pra ficar longe?
LEÃO – Cabrito, meu querido, sou o chefe, você só tá entrando agora e já quer pegar a cadeira da janela do ônibus! Quem te trouxe?
BODE – não fala assim com meu irmãozinho!
MINHOCA (agora já rendida nega do Leão) – é, não fala assim do meu amor.
CABRITO – né isso, não, Leão, você pagou pro cara?
LEÃO – paguei, claro, muito bem pago, ele tomou elixir paregórico, vai cagar três dias pra justificar.
BODE – você falou cagar, você falou cagar! Vou contar pra mamãe.
LEÃO – não conta, não, Bode, ainda não me recuperei das tapas que levei depois que contei que você pulou. Ainda bem que papai não tava em casa senão eu iria perder as orelhas.
BODE – tão bão, maninho, foi só pra zoar com você.
CABRITO – ele é seu irmão, posso trazer o meu?
LEÃO – que idade ele tem?
CABRITO – 13.
LEÃO – de jeito nenhum, só de 21 pra cima.
CABRITO – ele é grande.
VÁRIOS – não.
BACALHAU – nós vamos ou não vamos trocar as bulas? O tempo tá correndo.
A ideia era trocar as bulas dos remédios, obrigando os funcionários da farmácia da periferia a ter de abrir todos os remédios. Tinham trazido um cartaz com letras de jornais [NÓS TROCAMOS AS BULAS DOS REMÉDIOS], tomando o cuidado de usar luvas, tudo como nos filmes.
TOMATE (voz de falsete) – vamos logo, gente.
ÁGUIA (dando uma bifa nele) – vamos o caralho, você não é chefe, chefe é o Leão, porque você acha que falam que ele é rei dos animais?
TOMATE (chorando) – sua... sua... sua...
ÁGUIA – sua, o quê? Toma outro, sua besta. Eu gosto mesmo de te bater, já percebeu que estou sempre perto?
ELEFANTE (com a Gata nos ombros – ele é gigantesco, ela tem 1,55 m) – pula, denguinho.
Ela pula, cai nos braços dele, eles arrulham, é uma gracinha.
MINHOCA – amor, você tem de se impor.
LEÃO – gente, vamos trabalhar, gastamos mais um dinheirão e esse cocô não vai pra frente, tá difícil, é sempre a mesma coisa.
JACARÉ – aqui tá apertado e quente, o ar condicionado tá funcionando?
BURRO – que ar condicionado? É farmácia de periferia, sua anta.
JACARÉ – quem é anta?
Saem na porrada, juntam mais seis, derrubam várias prateleiras. Elefante dá uma voadora, joga quatro pros cantos. Gata dá uma tesoura, derruba Águia, que desforra no Tomate. Bacalhau dá um carrinho no Cabrito, nem precisava, era só pra desforrar daquela ultrapassagem dois anos atrás.
Uma barulhada do caralho, vem a sirene da polícia gemendo lá de longe, ligada a toda altura pra dar tempo dos bandidos fugirem.
Eles fogem até duas quadras distantes, suspendem a respiração, passa meia hora, a polícia vai embora.
LEÃO – bom demais, outra vez, até parece que a gente planeja.
MINHOCA – é o acaso, querido.
Eles esqueceram o cartaz, que ficou por baixo dos remédios derrubados. No outro dia os funcionários encontram o cartaz, pensando que as bulas tinham sido trocadas, vão destrocar todas.
A polícia está de olho, denúncia de drogas, acha que estavam falsificando remédios, prendem todos, de fato era ponto de fabricação no subterrâneo: o mal usa os seres humanos, o bem usa até o mal.
Serra, quarta-feira, 31 de julho de 2013.
José Augusto Gava.
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