Ação Entre Amigos III
Eles tinham combinado com o vigia do shopping para deixá-los entrar, dando uma coronhada e amarrando-o numa cadeira. Iriam trocar as peças das lojas umas para as outras com a chave-mestra.
LEÃO – bateu?
GALO – um pouco.
LEÃO – quanto? Não esmagou a cabeça dele, né?
GALO – mas tive de ser convincente.
LEÃO – pôrra, você bateu muito.
GALO – o que você queria?
LEÃO – arrancou sangue?
GALO – um pouco.
BODE – foi muito, irmãozinho.
GALO – não entrega, não, seu pulha.
BODE – num sô piolho (dá um soco na cabeça do galo).
GALO – essa doeu, falei pulha e não piolho. Droga, Leão, você tinha de trazer ele?
BOI – vai começar a reclamação de novo, ô porcaria.
MINHOCA (ela é nova no jogo, é bem pequena) – que reclamação?
VÁRIOS – nada, não.
MINHOCA – faz parte, devo participar?
VÁRIOS – NÃO!
LEÃO – Minhoca, minha nega, fica fria.
MINHOCA – não sou sua nega...
LEÃO – quer ser?
MINHOCA (toda melosa) – quero.
BACALHAU – essa merda nem vai começar. Vamos perder o dinheiro de novo.
ELEFANTE – Bacalhau, você se repete muito.
GATA – gente, já passou uma hora, vamos começar ou não?
LEÃO – a questão é se a besta do Galo matou o vigia, vá lá ver.
Gata vai e volta.
GATA – não matou, mas ele tá desmaiadão, além de amarrado nas mãos e nos pés.
LEÃO – vai querer mais dinheiro, vocês vão ter de contribuir.
ELEFANTE E GATA – nós, não, foi esse cavalo aí.
CAVALO – eu, não, foi essa besta do Galo.
Dá um soco nele, os amigos se doem, sai uma porradaria incrível.
LEÃO (preocupado) – gente, dá porrada em silêncio, lá da rua vão ouvir. Psiu.
ÁGUIA – psiu o caralho.
Dá outra no Tomate.
TOMATE – por quê eu? Nem tava na coisa.
ÁGUIA – eu gosto de te bater.
BODE – posso, mano?
LEÃO – não, Bode, você é muito grande.
Nisso Bode já tinha batido, era pro Galo, acerta o Cavalo.
PAPAGAIO – Cavalo, Cavalo. Ih, gente, Cavalo desmaiou.
LEÃO – deixa ele aí, é menos um gritando nessa porra, é outra que não vai dar certo, dá tudo errado.
COBRA – gente, isso é emocionante (passa uma rasteira na Águia, que é um desafeto). Que coisa boa! (dá uma voadora no Elefante, que nem sente, ela bate e volta, na volta ele dá um tapa, ela voa e vai bater numa parede defronte).
LEÃO – agora já são dois que nós vamos ter de carregar.
GATA (preocupada) – machucou você, amorzinho (ele tem 2,10, ela tem 1,55)?
ELEFANTE – não, docinho, tô bem. Gostou do tapa?
GATA – gostei, pena que não foi em mim, quando peço você não dá.
ELEFANTE – não gosto de te bater, querida.
ÁGUIA – que meleca, se for pra ficar nessa molhação vou virar de costas, que nojo.
MELANCIA – gente, tá amanhecendo.
LEÃO – Melancia, vira a bunda pra lá.
MINHOCA (já se achando dona) – é, não provoca ele, não.
BACALHAU – a gente vem pra arruaçar e vira briga, fica bom do mesmo jeito.
COBRA – bom demais, não vou falhar uma.
Ouve-se uma sirene de polícia.
LEÃO – merda, lá vem os homem.
ELEFANTE – vamo se mandar.
Fogem. Vão pro estacionamento até o carro policial se afastar.
Estrondeiam.
VÁRIOS – BOOOMMMM DEMAIS.
Exultação.
VACA (até ali mugindo em paz) – foi bacana, sim, companheiros (ela é professora universitária e do PT, partido da tribo).
MINHOCA – Leão, me passa seu telefone.
LEÃO – disca do meu pro seu.
Serra, quarta-feira, 17 de julho de 2013.
José Augusto Gava.
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