Wednesday, October 02, 2013

Infernal Burocracia Estatal (da série Já que Conto)

Infernal Burocracia Estatal

A SEÇÃO BRASILEIRA DO INFERNO
Dizem que a seção alemã do inferno quase não tinha ninguém na fila, porque todos os diabos de lá eram muito eficientes e cumpridores dos deveres, assim como nas seções japonesa, suíça, canadense e até inglesa e americana, ao passo que na seção brasileira formavam-se filas gigantescas.
Um recém-chegado, ainda desconhecedor dos babados, foi perguntar do por quê da diferença e um mais antigo na fila lhe segredou:
- É que na seção brasileira os diabos faltam por absenteísmo depois de beber muito, faltam para ir a jogo de futebol, faltam porque a mãe morreu três vezes, levam atestado médico, chegam atrasados, saem cedo, conversam muito e as caldeiras dão problemas, falta carvão e tudo isso.

Pois bem, a chamada Nova Gerência Infernal, querendo mostrar trabalho, contratou firma brasileira de reengenharia, até porque pretendia lançar ações “quentes” na Bolsa de são Paulo, cada vez mais significativa no mundo. Mais adiante as propagandas dos marqueteiros do PT iriam fazer tudo “pegar fogo” e no final os novos CEO (ih!, o outro lado vai ficar tiririca) do Inferno golpeariam para deixar os velhinhos e as velhinhas sem nada, como as empresas americanas fazem (veja a ENRON), inclusive fazendo-os voltar da aposentadoria para trabalhar e tentar sobreviver, ainda mais precisando dos serviços do SUS (Serviço Universal Sacana).
Então, logo de cara o SEBRAI (Serviço Brasileiro de Reengenharia Infernal) mandou despedir dezenas de milhares de capetas só pra vê-los sofrer, o que eles agradeceram, pois eram masoquistas condenados a uma eternidade de sofrimentos prazerosos; e os contrataram por 1/3 do salário anterior com o dobro de serviços.
Com esse pessoal, assim todo satisfeito, a firma procurou açular os ânimos dos hóspedes, fazendo-os passar raiva quase como nos bancos e nas repartições públicas. Tocaram fogo na turma, fazendo-a procurar todos os processos desaparecidos, listas de 200 mil páginas de letrinhas miúdas, tipo 5 ou 8, e a proceder a enormes cargas de miudezas inúteis que introduziam novos temperos nas relações. As fofocas corriam soltas: será que os chefes vão pegar fulano para trabalhar depois da hora? Nego ficava torcendo: vai sim, vai sim. O ar condicionado central, claro, estava com defeito, exceto nas salas dos computadores. Os melhores carros, tá na cara, ficavam com os chefes. Freqüentemente os capetinhas iniciantes eram indiciados em processos cabeludos que faziam os antigos estremecer de prazer.
Os chefes faziam previsões de catástrofes: como a China vai fazer quando a economia de lá quebrar, agora que inventou prazer para 300 milhões de nova classe média? Era diabólico! O povo infernal ululava de prazer, chegavam a salivar, mas logo a saliva lhes queimava nos lábios, chiando.
Quanto aos novos preços da energia? Durante quase duas décadas o preço do kWh subira muito além da inflação, desde 1994, e agora iria baixar um tiquinho de nada e só um ano. Era a conta dos pobres diabos urrarem de satisfação. Que coisa, a maldade do Diabão era uma Arte com A maiúsculo.
Alguém dizia: - Esse lugar é um inferno! E os outros respondiam, sabendo que era inviável: - vá pro céu! Há, há, há.
Eles sabiam se divertir.
E os antigos contavam da época em que todo mundo foi induzido a mudar para o álcool nos carros e depois as usinas fecharam as torneiras e os carros todos ficaram nas garagens.
Ah, como eram bons os tempos antigos, suspiravam, as novas gerações não conhece esse tipo de arte-manha.
E ficavam sonhando com os bons tempos.
Serra, sexta-feira, 19 de outubro de 2012.
José Augusto Gava.

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