Friday, October 11, 2013

Morcegomem e Rubim (da série Vale 100 Contos)

Morcegomem e Rubim

Dois idiotas, por sinal amigos nossos - não vou dizer os nomes para não embaraçar - inventaram essa merda de imitar americano, contudo não puderam colocar os nomes estrangeiros, traduziram, ficou assim.
Bom, o Morcegomem era maiorzinho, 1,75 m, mas o Rubim era menor, 1,60 m, estourando 1,65, né, Filó?
- É, estourando.
Obrigaram as mulheres a fazerem aquelas roupas ridículas e a gente ficava dizendo: “cês vão torrar, seus trouxas, num calorão brasileiro tropical desses! Lá é frio, seus cavalos, e eles saem de noite”. Não teve jeito. Cada amizade que a gente arranja, é de dar pinicação no corpo, viramos os zóios e deixamos ir. Vai, vai, suas crias do cão.
Foram.
Inventaram umas cordas com gancho, subiam no telhado, jogavam no prédio vizinho, pulavam, não calculavam direito a curva, batiam direto nas paredes, escorregavam quiném em filme, depois despencavam, ficaram vários meses engessados e ainda por cima tendo de trabalhar. Dureza.
Iam de tardinha, de noitinha, se borravam todos dos bandidos.
Se tiver medo de enfrentar, pra quê se oferecer?
A gente pensava que eles iam consertar, qual o quê!
Compraram um carro velho, o Morcegarro, e moitaram numa caverna que tem aqui, a Morcegaverna, cheia de morcegos, uma vez fui lá, acho que tinha pra mais de 50 mil. Acharam de espantar os morcegos, foi a conta de começar uma gritaria tremenda dos ecologistas da região, deu até no Jornal Nasceumal.
As crianças deles viraram as costas, os coleguinhas gozavam na escola, acho que foi isso; as mulheres ameaçaram divorciar, foi um Deus-nos-acuda. O cinto de utilidades deles só tinha bandaid, esparadrapo, Rifocina, remédio para contusão, tala e coisas assim. Era tanta coisa que formava um pneu em cada um, projetava pros lados um tanto assim, ó.
UMA VEZ SÓ que pegaram os bandidos. Bem, na realidade, os bandidos que pegaram eles, desceram a porrada, fiquei com pena, foi arrasador, avassalador, devastador. Mais seis meses engessados e enfaixados, não sei como justificavam no serviço.
Doutra vez foi a polícia que pegou eles, achou que eram ladrões, até explicar que focinho de porco não é tomada... Tiveram de pagar fiança, foi um vexame danado, o bairro todo ficou sabendo, não podiam sair na rua. Até as crianças gozavam, que constrangimento.
Tem gente que quer imitar, né? Imita e fica ridículo.
Serra, quarta-feira, 24 de julho de 2013.
José Augusto Gava.

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