Saturday, October 26, 2013

Preso na Cadeias da Intriga (da série Se Precisar Conto Outra Vez)


Preso nas Cadeias da Intriga

 

A intriga não pode ter fundo genético, não há um gene-da-intriga, mas ela vem do mesmo conjunto de genes onde são representadas as falhas humanas, todavia portadoras de valor de sobrevivência, isto é, tais falhas conduzem ao futuro, como o medo faz o indivíduo se esconder, preservando-o e permitindo-lhe ter descendência, que propaga o medo, reduzido em até 50 % no cruzamento seguinte (ou aumentado).

A intriga é uma corrente vindo do passado e através do presente indo ao futuro espalhar sua letalidade, seu veneno. Entrementes, os elos da corrente da intriga, suas cadeias, podem ser mensuradas, podem ser conhecidas.

AS CADEIAS DA INTRIGA

1. inimizade
2. medo
3. desconfiança
4. falsidade

E outras.

Como a pessoa se decide pela maledicência, o mal dizer?

Há alguma competência nisso.

Pois quem intriga está medindo a psicologia de quem irá ouvir, a modo de ver se será aceitável sem prova; a de quem fala, se tem autoridade para iludir; a de quem está ausente – se a falsificação colará na face conhecida do intrigado.

É uma arte? Comporta beleza? Se for arte, não é coletiva, porque nunca vi reunião de intriguentos. E se comporta beleza esta não foi classificada, nem houve qualquer concurso.

É uma técnica? Pode ser melhorada pelos estudos científicos? Até onde sabemos não deve ser técnica ou pelo menos não foi estudada a fundo, exceto pelos governos nazi-fascistas. Talvez um pouco pela propaganda quando ataca os outros publicistas.

Devemos concluir que a intriga é arte, mas solitária, começa de novo com cada aderente. Felizmente não prosperou enquanto veneno, não se coletivizou, não se tornou motivo de pesquisa & desenvolvimento. Ainda que não tenha prosperado na coletividade, alguns são artistas solitários bastante competentes em intrigar, desenvolvendo em si aqueles antivalores acima: 1) a inimizade leva ao 2) medo, que propele à 3) desconfiança, que empurra à 4) falsidade, que leva ao ato de intrigar.

Parece que o Congresso está cheio disso, bem como os corredores do poder onde, segundo dizem, fervilham as intrigas. Nunca estive lá, não posso dizer. Como os deputados são eleitos de quatro em quatro anos e os senadores de oito em oito, a renovação nos diz que os eleitos devem ser, segundo as chances, 50 % de intriguentos.

Essa lógica acabou por me ameaçar e decidi não prosseguir nas investigações. Não quero nem ter inimizade.

Serra, quinta-feira, 12 de abril de 2012.

José Augusto Gava.

 

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