Wednesday, October 09, 2013

Coqueiro Francês (da série Vale 100 Contos)

Coqueiro Francês

Quatro franceses comiam caranguejo no Bar do Davi em Jucutuquara, Vitória, ES, com luvas e pinças.
Tinham comprado de frente para o mar um areal em Linhares e pretendiam plantar coqueiros, que iriam consorciar com maracujás. Estudaram tudo da planta, ficaram entusiasmadíssimos.
JEAN-PIERRE (olhando por cima do óculos) – caule único.
PAUL – folhas, no mínimo 25, do contrário a planta está doente.
JEAN-PIERRE (de novo olhando por cima do óculos; isso era irritante, mas ninguém lhe diria, de pura vingança com a audácia dele: levantando o dedinho) – poda, semestral.
RENÈ – adubação, anual.
JEAN-PIERRE (de novo, de novo, isso é muito irritante) – amêndoas, 100/ano depois do quarto ano.
AUGUSTIN (chamando a atenção dos demais: aham) – tipos, quatro: anão, gigante, anão-gigante, da Bahia, que é o amarelo. 100, só do anão-gigante, os demais demoram, 10 anos para frente.
A verdade é que Augustin falava demais, um pedante.
RENÈ (chupando escandalosamente uma puã, depois de molhada no molho – tropicalizara-se, esse) – distância de plantio sete metros, metade é o sistema radicular; 10 m para o gigante.
AUGUSTIN (ele fala demais) – tudo se aproveita: palha para cobertura, tronco para mesas, palmito no fim, raízes para trançar, endocarpo para botões, mesocarpo para triturar e fazer adubo, cocos velhos brotados para replantio, água diurética e vermífuga.
RENÈ (colocando farinha na caçapa do caranguejo e pegando a meleca com os dedos, como se capixaba fosse, para horror dos demais, que fazem cara de escândalo) – amêndoa verde para água.
AUGUSTIN (fala, fala, fala) – coco verde, sem traços, pouca polpa, água quase salobra; coco mais escuro, com traços pesados, polpa espessa.
JEAN-PIERRE – modo de abrir, facão ou pontão.
PAUL – amêndoa verde, anão-gigante, dois copos ou mais.
RENÈ (fazendo as contas) – 100 amêndoas pé/ano, US$ 50/amêndoa, 100 mil pés produzindo, US$ 5,0 milhões/ano, um para guardar, um para cada qual, ricos (nem reclamaram por ele falar tanto).
TODOS (brindando) – ricos, ricos, nababos, sem impostos.
O que é o otimismo multiplicador.
Serra, sexta-feira, 09 de agosto de 2013.
José Augusto Gava.

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