Dom Baixote
Anão ele não era.
Baixinho, sim, um metro e cinqüenta, um metro e cinqüenta e um. Isso, 1,51, ele fazia muita questão desse um, se você não levasse em conta arriscava tomar porrada. Porradinha, né, mas doía.
Inventou de sair de moto, comprou uma grande, os pés dele não alcançavam o chão, teve de convidar aquele amigo dele, o Sandro Pança, que na realidade era alto, dois metros, sei lá, tinha uma barriguinha mínima de cerveja, de chope, ele gostava de chope. Então o Baixote, Dom Baixote, que o pessoal tira lasca mesmo, passou a andar do lado dele numa moto pequenininha, dessas fraquinhas mesmo, cinquentinha, e apontando para o Sandro dizia “essa moto é minha”. 600 cc, seiscentona, um luxo.
Sandro era boa gente, levava na boa.
“Tá de boa”, ele dizia, deixava ir.
Dom Baixote era meio biruta, não vá dizer que eu que falei, se encontrar com ele, mudou daqui.
Fizeram dupla, saíram pelo bairro fazendo arruaça, pegaram ali adiante uns moinhos de vento, umas turbinas ECO, entende, prá lá, tá vendo, lá, ó, viu? Do governo, eles ficaram dando cavalo de pau em volta das estruturas, a dele era pequenininha, mas a do Sandro era possante, com o tempo abalou as estruturas, uma torre caiu, os policiais vieram saber.
“Quem foi?”
Todo mundo entregou, claro.
Eles ficaram sumidos um pouco, foram lá pros lados de Aroaba, na Serra, ficaram sumidos bem um ano e meio.
Daí, voltaram.
Aprontaram por aí, o pessoal botaram eles pra correr, foi feio.
Disseram pro Dom Baixote que a Dorotéia, uma negona muito cobiçada do pedaço (eu também tava de olho, mas ela se valoriza, sabe que é gostosona, quer posar pra Playboy, quer ganhar uma baba, não é tira-gosto, não, é filé do bão), tava arrastando asa pro lado dele. Ele ficou ouriçadaço. Ficou com tudo em riba e partiu pra cima, o namorado dela arrebentou ele todinho, o Sandro só ficou olhando, o sacana.
Certo, também ri, ia fazer o quê?
Oferecido assim de bandeira, ri, sim, não vou negar.
Saiu no jornal, não viu? O bairro todo comprou, nós rimos uns seis meses, ele mudou, escafedeu-se, foi. Vergonha, eu acho. Desde então não temos visto. O Sandro mudou pra roça, tá na capina.
Depois teve um cara, Miguel, que fez um livro com a história, porém mudando os nomes e invertendo para não ficar transparente, parece que fez sucesso, não li.
Serra, quarta-feira, 24 de julho de 2013.
José Augusto Gava.
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