Wednesday, October 09, 2013

Eletroterapia ou Estímulo Elétrico (da série Vale 100 Contos)

Eletroterapia ou Estímulo Elétrico

O escritor estava visitando a Casa da Terceira Idade para entrevistar alguns antigos psiquiatras que ainda presenciaram a Terapia de Choque Elétrico.
ESCRITOR – como era?
ANTIGO PSIQUIATRA – era bom.
ESCRITOR – era bom?
ANTIGO PSIQUIATRA – não era, Beto?
BETO – era.
ESCRITOR – como assim? Os pacientes gostavam?
ANTIGO PSIQUIATRA – os pacientes?
ESCRITOR (munindo-se de paciência – é a idade, estão gagás) – sim, os pacientes.
BETO – que pacientes? Do que ele está falando, Nando?
NANDO – sei lá (faz o gesto de girar o dedo em volta da orelha indicando doideira, o Escritor não vê).
BETO – do que o senhor tá falando?
ESCRITOR – dos pacientes, do pessoal que vocês tratavam.
NANDO – peraí, vamos recuperar. O senhor estava perguntando se era bom para os pacientes?
ESCRITOR – sim.
NANDO – eles chegavam amarrados braços e pernas, e esperneando, se agitando muito, tomavam os choques e ficavam calminhos, acho que desmaiavam, não é, Beto? Não dava para saber, eles estavam desmaiados.
BETO – é o que eu pensava. Era isso que o senhor queria saber?
ESCRITOR – não, eu queria saber se funcionava para curar. Curava?
BETO – curava, sim.
ESCRITOR – como assim, se vocês disseram não saber?
NANDO (finalmente entendendo) – o senhor quer saber se curava A ELES?
ESCRITOR – sim.
NANDO – pensei que o senhor estava perguntando se curava A NÓS. A nós, curava, sim, ficávamos numa boa, depois. É porisso que se chamava ELETROTERAPIA. Era uma terapia, não era, Beto?
BETO – era mesmo, eu ficava feliz da vida, muito tranquilinho depois de dar os choques, os “estímulos elétricos”. Puxa, ficava pianinho, numa boa depois de cada seção, ia pra casa tranquilíssimo, minha mulher até achava que eu tava tomando remédios ou consumindo drogas.
ESCRITOR – ah!
Serra, sexta-feira, 19 de julho de 2013.
José Augusto Gava.

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