Quem Mexeu no Meu
Queixo?
Eu achava que o meu
queixo não estava bom, não era legal, havia uma ligeira distorção para a
esquerda. Ficava incomodado com aquilo. Isso me atrapalhou durante anos e
apesar de alguns dizerem que a forma da gente é patrimônio em termos de
identificação, foi se assentando a ideia de que eu deveria mudar. Falei com
vários amigos, e mulheres com as quais tinha vivido, com os colegas de
trabalho, com bastante gente, uns a favor e outros contra, a maior parte
contra.
Conforme ia acumulando
dinheiro, mais e mais me parecia certo fazer, pois podia. E, afinal de contas,
o Brasil é o país em que mais operações plásticas no mundo inteiro, pode isso?
Está longe de ser a primeira economia -Europa em primeiro, EUA em segundo,
China em terceiro, Japão em quarto, Brasil no máximo em quinto ou sexto; nem
tinha a maior população - primeiro a China, em segundo a Índia, em terceiro a
Europa, em quarto os EUA, em quinto a Indonésia, Brasil em sexto ou sétimo.
Enfim, isso
empurrava um pouco.
Meus negócios iam
de vento em popa.
Eu queria ter um
queixo repartido, assim como o Kirk Douglas (pai do Michael Douglas de agora),
uma covinha no meio, achava que iria ficar irresistível com as mulheres. Tinham
me contado, uns 20 anos atrás, de certa moça que fez operação nos seios para
colocar os bicos para dentro e ficou divergente, um apontando para fora e outro
para dentro.
Barbeiragem.
QUEIXO MEU, QUEIXO MEU...
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Fiquei com o rosto
todo deformado, que nem o Mickey Rourke, o outro Michael, o que foi fazer Sin
City.
Escolha minha, está
certo, e do outro lado barbeiragem. Eles ficaram com o meu dinheiro e eu com as
deformações. Está certo que as empresas nos entregam por nosso rico dinheirinho
produtos de terceira ou quarta qualidade, guarda-roupas que só podem ser
montados uma vez (se forem desmontados nunca na vida você conseguirá montá-los
uma segunda vez) ou aparelhos celulares que queimam seu rosto ou carros que
pegam fogo ou com milhares de defeitos (seria interessante fazerem livros
mostrando inclusive fotos, com as marcas e tudo em evidência para proteger a
clientela).
Não seria muito
lógico eu pagar para destruírem meu rosto.
Onde vou conseguir
um rosto novo?
Antes tivesse
ficado com o meu, o de antigamente, que veio desde a infância. É preocupante isso
de a gente querer alterar a aparência, contrariando a natureza, mesmo a
medicina tendo ido tão longe, com a técnica médica respondendo à ciência
biológica. Tudo é muito complexo.
Agora aqui estou
eu, paguei uma fortuna pelo novo queixo com covinha e estou com uma cova
imensa. E se eu, que tenho concessionária, tivesse entregado ao médico que me
operou um carro todo esculhambado no lugar da BMW comprada e paga? O que iriam
dizer de mim?
Não me conformo.
Com a quantidade de
coisa ruim que tenho pensado, se por acaso for para o Céu espero que Deus saiba
me reconhecer com esse rosto novo e horroroso, ó Deus, me reconheça!
Serra,
quarta-feira, 04 de abril de 2012.
José Augusto Gava.
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